Ministra da Educação recebeu os representantes dos presidentes dos Conselhos Executivos contestatários, mas mostrou-se irredutível
Foram quatro horas de reunião para, afinal, ficar tudo como estava. Ou quase. Rosário Gama, uma das representantes dos 139 presidentes dos Conselhos Executivos (PCE) que, no sábado, se reuniram em Santarém para reclamar a suspensão da avaliação, diz que saiu do longo encontro com a ministra da Educação, ontem, com uma certeza: “Está tudo na mão dos professores. Terão de ser eles a travar o processo, não entregando os objectivos, e nós só podemos apoiá-los.”
Foi um corrupio. Ao final da manhã de anteontem Rosário Gama, da secundária Infanta D. Maria, de Coimbra, enviou o pedido de audiência à ministra; ao cair da noite do mesmo dia recebeu resposta positiva; e às 13h30 de ontem, 14 dos PCE contestatários entravam no ministério, para reclamar, pessoalmente, a suspensão da avaliação. Foram recebidos por uma ministra “tremendamente cordial”, nas palavras de Eduardo Ferreira, do Agrupamento de Escolas do Sátão. “Mas irredutível”, como completou Rosário Gama.
“Não quis que lêssemos o manifesto. Estivemos quatro horas a conversar, a explicar as razões da nossa preocupação e do nosso descontentamento, e a ministra ouviu atentamente, foi tirando notas e, no final, disse que não iria suspender a aplicação do modelo”, descreveu Eduardo Ferreira.
Demissão adiada
E assim ficaram. Da parte da ministra e do secretário de Estado Valter Lemos ― que não prestaram declarações aos jornalistas ― não surgiram quaisquer ameaças de processos disciplinares; e os PCE também não abordaram a possibilidade de demissão, que fora longamente debatida na reunião de sábado passado. Se essa é ou não uma possibilidade é o que se verá no segundo encontro de PCE, marcado para 7 de Fevereiro, em Coimbra. “Mas o importante, agora, é que os professores não entreguem os objectivos”, defendeu Rosário Gama, que acredita que a demissão “serviria o Governo, que assim se livrava” dos contestatários.
Tal como impõe a lei e foi decidido em Santarém, os PCE vão mesmo determinar e afixar o calendário das várias fases da aplicação do modelo de avaliação. No entanto, voltou ontem a frisar Rosário Gama, “os professores sabem que podem contar” com o seu apoio. Significa isto, na prática, que pelo menos aqueles 139 PCE optarão pelos prazos mais alargados; não pedirão aos professores que entreguem os objectivos; e, entretanto, a 7 de Fevereiro, voltam a reunir-se para decidir novas medidas a adoptar. Com uma certeza, diz Rosário Gama: “Nessa altura, seremos mais do que 139 e a nossa capacidade de reivindicação estará reforçada.”
Este protelar do processo, no entanto, admite a docente, só será eficaz “se um número significativo de professores não entregar os objectivos”. Um cenário que, ao longo dos últimos dias, foi entusiasmando os responsáveis pelos variadíssimos blogues de docentes que contestam a avaliação, alguns dos quais de movimentos de professores independentes de sindicatos.
O ProfAvaliação (www.profblog.org), por exemplo, continuava ontem a actualizar uma lista que já ia em mais de 70 escolas ou agrupamentos que, já após a simplificação do modelo de avaliação, terão aprovado moções em que o rejeitam e se recusam a aplicá-lo. Outros blogues publicam textos das moções, como o atribuído à escola Secundária de Camões, de Lisboa, em que os docentes acusam o ministério de institucionalizar “uma avaliação de faz de conta”.
Graça Barbosa Ribeiro
Fonte: PÚBLICO 16.01.2009
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