sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Apelo de Rosário Gama caiu em saco roto

Ex.mo(a) Sr.(a) Deputado(a),

No momento em que se aproxima mais uma votação no Parlamento sobre o modelo da Avaliação de Desempenho Docente, dirijo-me a V.a Ex.a no sentido de lhe propor que, desta vez, utilize a última oportunidade para se colocar ao lado dos Professores, a cujo grupo social já pertenceu e/ou poderá ainda vir a pertencer.

É confrangedora a ideia da “disciplina de voto” na votação deste tema, mas uma “disciplina mental” que permite votar contra a esmagadora maioria dos professores, muitos dos quais contribuíram com o seu voto para o(a) eleger, ainda é mais confrangedora!

Não posso deixar de imaginar um hipotético regresso à sua escola de origem e vê-lo(a) confrontado(a) com regras resultantes de medidas legislativas aprovadas pelos(as) senhores(as) deputados(as).

Apontava-lhe alguns exemplos:

O não acesso imediato à categoria (aberrante) de Titular, decorrendo daí ser submetido(a) à avaliação por um colega avaliador com possibilidade de o mesmo ter menor graduação profissional.

Verá a progressão na sua carreira sujeita a quotas e, se ainda tem muitos anos pela frente, poderá ser dos 70% que não progredirão e que ficarão, no final do seu percurso, com um salário equivalente a 1400 Euros actuais.
Pelo facto de não ser titular não deverá desempenhar qualquer cargo, nem sequer a direcção de turma, pelo que, não terá qualquer redução na sua componente lectiva: não haverá problema porque perceberá o que é estar a “inventar” trabalho nas Escolas, além de que fica com mais tempo para aulas/actividades de substituição.

Irá experimentar enfrentar turmas com 28 ou mais alunos e, se a sua formação for em Filosofia, poderá ser confrontado(a) com a substituição de um colega de Ciências ou de Física e terá de cumprir o plano de aula que o faltoso deixou. Se por acaso o colega que substituiu uma vez, estiver com atestado médico, voltará à mesma turma e verá como é “agradável” estar com o grupo desconhecido que quer tudo menos ouvi-lo(a) a cumprir um plano de Ciências ou de Física. Pode optar por uma actividade como educação para a cidadania, ou mesmo sobre a sua experiência como deputado(a) mas para isso terá de ter conquistado os alunos e isso…garanto-lhe que não é fácil!…

No seu hipotético regresso, será confrontado(a) com uma escola onde manda um “Director”, com todo o poder concentrado em si, contrariamente àquilo que consta das Bases Programáticas do Partido onde votou, tal como eu. O(A) Senhor(a) Deputado(a) Professor(a) contribuiu, com o seu voto, para o fim da gestão democrática, que tanto custou a conquistar.

Prevejo que, quando for altura de V.a Ex.ª regressar à Escola, após cumprimento do seu mandato, pensará seriamente se estará disposto(a) a suportar as consequências negativas, para si e para a Escola Pública, resultantes da implementação das medidas que, hipoteticamente, aprovou na Assembleia da República. Curioso, não é?

Aceite um conselho desta camarada, militante do PS n.º 19860, com as quotas em dia: se não votar ao lado dos Professores, não volte à Escola Pública que ajudou, com o seu voto, a transformar num local de tensões e conflitos e, consequentemente, a destruir!

Subscrevo-me,
Maria do Rosário Gama

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