O PIB, que segundo Sócrates prometera devia crescer 3 por cento este ano, vai diminuir, segundo o “orçamento rectificativo”, 0,8 por cento. O défice do Estado que devia descer este ano para 2,2 por cento do PIB vai subir para 3,9 por cento. O desemprego vai aumentar de 7,7 por cento para 8,5 por cento. A dívida pública também vai aumentar para 69,7 do PIB. E por aí fora. Estes são os números oficiais. Mas, por exemplo, o Economist prevê uma contracção do PIB de 1,5 por cento e a agência de rating Standard & Poor’s de 2 por cento. A política do Governo está irremediavelmente desfeita e as previsões para o futuro próximo são arrepiantes. Sócrates pretende que tudo isto é o resultado da crise internacional. Não é. É também em grande parte responsabilidade dele.
A Standard & Poor’s baixou o rating de Portugal (o que nos fará pagar mais caro qualquer empréstimo externo) não apenas por causa da miséria económica e financeira a que o país chegou. Repetindo o que já disseram e escreveram milhares de portugueses, a Standard & Poor’s contou ― e talvez principalmente ― com o fracasso das reformas de Sócrates: com o fracasso da reforma da administração, em primeiro lugar, e, a seguir, da saúde e do ensino. Infelizmente, Sócrates nunca ouviu quem o avisava. Preferiu sempre acreditar na sua própria propaganda: sobre o Simplex ou sobre o valor tecnológico do que Portugal exportava, que ele supunha ter enfim transformado e que afinal ficou por um pequeno (e precário) progresso. Ele era a única fonte da verdade. Acontece que a verdade era outra.
Começa agora a surgir por aí um argumento, que se aproxima da chantagem e que é bom perceber e recusar: o argumento de que o país não sobrevive sem a maioria absoluta do PS. Ou seja, o argumento de que sem a autoridade de Sócrates cairíamos rapidamente no caos. Da geral falência do Governo, sobrou, muito a custo, esta imagem do “homem forte”, que, em teoria, justifica o resto. Além do odor à velha convicção de que o indígena gosta que mandem nele, há aqui a extraordinária ideia de que mais vale um primeiro-ministro incompetente e cego a uma solução qualquer que, embora frágil ou efémera, evite a persistência no erro. O juízo imparcial e desinteressado do Economist e da Standard & Poor's mostra o perigo de confiar no incontrolável. Uma dose de Sócrates levou ao que levou. Quem sabe ao que levará a segunda?
Vasco Pulido Valente
PÚBLICO 18.01.2009
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