Escritor estava a avançar no projecto literário que mais o seduziu durante a vida. Um livro sobre a Revolução de 1383/85, a recriação histórica ao gosto dos escritos que lhe deram fama
É com voz embargada que o editor de grande parte da obra do escritor João Aguiar revela ao DN que ficará por publicar o livro em que o autor estava empenhado nos últimos tempos. Manuel Valente, que o editou na D. Quixote, na ASA e na Porto Editora, ainda trocou vária correspondência electrónica com João Aguiar, que o questionava sobre propostas de título para o desejado romance histórico sobre a Revolução de 1383/85. Mas a morte acontecida ontem, após luta contra um cancro, impossibilita a grande maioria dos seus leitores adultos de voltar a ler a escrita que mais apreciavam nele, a do romance histórico.
Pouco terá redigido deste novo livro, para além das notas resultantes da investigação preparatória, desde que avançou para a tão polémica revolução popular. Este era um género em que João Aguiar se sentia tão à vontade que, por altura do lançamento do seu penúltimo livro, O Priorado do Cifrão, dissera ao DN: "Não sou o Papa do romance histórico." Não era verdade, pois retomara um género que possuía bons exemplos na literatura nacional mas que ganhou novo fôlego quando lançou em
A partir daí, e mesmo que não o quisesse, ficou colado a este género literário com títulos de grande sucesso como O Trono do Altíssimo; A Hora de Sertório e a peça Inês de Portugal.
Sobre a sua identificação com o romance histórico, João Aguiar referia na entrevista ao DN o seguinte: "É um género de que gosto muito, e o meu próximo romance vai ser outra vez histórico." Justificava as suas incursões noutros géneros assim: "Desde o princípio decidi que não queria ser previsível e que não iria explorar filões (...) só porque tive a sorte de o primeiro livro ter sido um êxito." O seu interesse na História de Portugal era tão grande que também sonhava fazer uma biografia do rei D. João III.
João Casimiro Namorado de Aguiar nasceu a 28 de Outubro de 1943, em Moçambique. A sua infância foi dividida com Lisboa e diz a biografia que para o manter sossegado na cama durante um longo período de doença a mãe o ensinou a ler e que de leitor interessado passou rapidamente a aspirante a escritor. Aos oito anos tentou ditar um livro de aventuras à irmã, mas o sentido crítico dela arrasou-lhe as pretensões.
Licenciou-se em Jornalismo pela Universidade Livre de Bruxelas e iniciou-se na RTP, em 1963. Seguem-se vários jornais, o Diário de Notícias foi um deles.
Fonte: Diário de Notícias [04.06.2010]
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