sábado, 5 de junho de 2010

Governo segue «uma estratégia errada», segundo o "Expresso"

Editorial Depois de ter demorado demasiado tempo a perceber que o mundo tinha mudado, o Governo continua a fazer uma avaliação desfasada da realidade e reage em vez de agir

Uma estratégia errada

Desde que começou a anunciar medidas de austeridade para combater a crise, o Governo dá mostras de continuar a não compreender a situação muito difícil em que o país se encontra, apesar de os sinais virem de toda a parte. E por isso anuncia aumento de impostos, que primeiro é para vigorarem ano e meio, e agora já é claro que se vão manter pelo menos até 2013. E por isso anuncia o PEC1, depois o PEC2 e, no momento em que este é aprovado na Assembleia da República, o ministro das Finanças diz esperar que este seja o último aumento de impostos ― mas não o garante. E não garante porque o ministro sabe que Bruxelas considera as medidas para 2010 suficientes, mas prevê que para 2011 vai ser necessário tomar mais decisões. E não garante porque as crescentes dificuldades de acesso ao crédito e a subida exponencial do seu custo por parte da República e da banca portuguesa estão a dar gás aos rumores de que acabaremos por ter de recorrer ao megafundo financeiro que a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional constituíram para defender os Estados-membros da UE sob ataque dos mercados ─ e se recorrermos a esse megafundo vamos ter de aceitar novas medidas impostas pelo FMI. E não garante porque o ministro sabe que a venda da Cimpor a brasileiros, ou da Vivo a espanhóis, ou a entrada de investidores angolanos no BPI, no BCP e na Zon é o resultado precisamente da fragilidade da economia portuguesa e da descapitalização e endividamento dos empresários nacionais.

Estamos na fase de vender os anéis. Mas não é seguro que, depois dos anéis, não tenhamos de cortar alguns dedos. E se não encontrarmos maneira de fazer crescer a economia, nem o corte de todos os dedos chegará.

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Expresso N.º 1962 | 5 de Junho de 2010

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