Ao Benfica sucedeu o Papa. Não é a mesma coisa, porque no meio de muito circo idêntico sempre haverá palavras que não são da mesma natureza do vazio dos gritos. Há também, para quem tem fé, uma dimensão transcendental que voa mais alto do que a águia domesticada do Benfica. Mas infelizmente as televisões, em particular, adoptam o mesmo modelo espectacular nas emissões do Papa que seguiram com a vitória do Benfica: o directo é uma das formas mais enganadoras de comunicação, mediado invisivelmente pela realização televisiva, mas dando às pessoas uma ilusão de participação que está longe de existir.
Ao encher-se o espaço televisivo com horas e horas de directos, em que a sequência dos eventos em tempo real é apenas pontuada pelo palavreado do jornalista para encher o tempo vazio, está-se a fazer uma forma paupérrima de jornalismo. O jornalismo faz-se na notícia, sendo rigoroso com os factos mas enquadrando-os por um trabalho de edição; nos directos televisivos não há editing, distanciação, apenas, como referi, a ilusão de participação. O jornalista está lá como entertainer ou como compère e o produto final é também, e apenas, espectáculo.
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SÁBADO N.º 315 | 13 MAIO 2010
Um comentário:
Deus escreve por linhas tortas. Foi assim que tomei de assalto a bbc e a cnn para me locupletar :) Octávio Lima (Ondas3)
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