Pílula foi criada há 50 anos, mas jovens aderem menos do que as suas mães
Cinquenta anos depois da introdução da pílula no mercado internacional, as jovens portuguesas aderem menos a este método contracetivo do que as suas mães devido a mitos “absurdos” como engordar ou provocar borbulhas, defende o especialista Luís Graça.
Depois do ‘boom’ inicial nos anos 60/70, começaram a surgir vozes contra, nomeadamente morais. “Mas também foram postas em evidência as raríssimas complicações da utilização da pílula, o que levou a que as mulheres deixassem de aderir da forma como as suas mães fizeram há 40 ou 50 anos”, comentou o diretor de serviço de obstetrícia do Hospital Santa Maria, em Lisboa.
Para Luís Graça, uma das consequências destas objeções é o aumento dos abortos a pedido da mulher, quer antes quer depois da lei da interrupção voluntária da gravidez (IVG).
“Estou convencido de que as jovens aderem menos do que as mães por causa de objeções absurdas, como porque engorda ou porque faz borbulhas. Em mulheres saudáveis, a pílula tem contraindicações extremamente reduzidas e é inócua”, explica o especialista.
A escassez de contraindicações está relacionada com a redução de hormonas nas pílulas, que atualmente têm cerca de metade do nível de estrogénio do que há duas ou três décadas.
Apesar dos mitos errados, a pílula representa mais de 65% de todos os contracetivos.
No ano passado, venderam-se quase 7,5 milhões de embalagens de pílulas, o que representa uma média mensal de cerca de 625 mil embalagens. Já em valor, foram gastos mais de três milhões de euros na compra de pílulas em 2009, segundo dados fornecidos à Lusa pela consultora IMS Health.
Pílula não pode ser esquecida
Mesmo sendo o contracetivo mais vendido em Portugal, a pílula é, em muitos casos, mal usada.
Prova disso é que mais de 8 mil das 19 mil mulheres que quiseram abortar no ano passado invocaram que a pílula falhara, o que é impossível, diz Luís Graça: “O que falhou foi o uso do método por parte dessas pessoas. Esquecem-se. Tomam mal. Não são educadas para isso”.
Aliás, um estudo divulgado este ano pela Sociedade Portuguesa de Ginecologia mostra que 70% das mais de 1300 mulheres inquiridas se esquecem de tomar a pílula um a três ciclos por ano.
Por isso, o ex-presidente do Colégio de Obstetrícia da Ordem dos Médicos defende a criação de consultas específicas de contraceção ou conselho anticoncetivo nos centros de saúde.
Consultas essas que deveriam ser dadas por profissionais especializados e de rápido acesso, sem tempo de espera.
Sublinhando que a pílula permite uma contraceção “fidedigna e com raríssimos efeitos secundários”, Luís Graça julga que estes foram os fatores chave para o êxito deste fármaco quando foi introduzido pela primeira vez no mercado, em agosto de 1960, nos Estados Unidos.
Meses antes, no dia 9 de maio, as autoridades norte-americanas davam oficialmente a sua aprovação à pílula, criando uma revolução na forma como a mulher e o mundo passaram a encarar a sexualidade.
“Deu à mulher uma liberdade que não tinha. E modificou radicalmente tudo o que era o planeamento familiar, que antes era baseado nas contas ou no calendário, que era complicado ser uma contraceção verdadeiramente efetiva”, concluiu Luís Graça.
►Lusa/ SIC
(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)
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