Provas de aferição voltam a provocar polémica
03.05.2010 ― 08:30 Por Lusa
A Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) defende que as provas de aferição sejam realizadas por uma entidade externa ao Ministério da Educação (ME) para evitar a tentação dos “resultados mediáticos e políticos”. A Associação de Professores de Português insiste, pelo seu lado, que devem ser só realizadas em algumas escolas.
“A tentação de fazer as provas a pensar nos resultados mediáticos e políticos é muito grande. As provas deveriam sair da alçada do Ministério a Educação e passar para uma entidade independente”, afirmou o presidente da SPM, Nuno Crato, em declarações à agência Lusa.
Mais de 230 mil alunos dos 4.º e 6.º anos realizam esta semana provas de aferição a Língua Portuguesa e Matemática, testes que visam a recolha de dados relevantes sobre os níveis de desempenho dos estudantes, mas que não contam para nota. De acordo com o calendário definido pela tutela, a prova de Língua Portuguesa realiza-se na quarta-feira, às 10h00, enquanto a de Matemática está prevista para sexta-feira, à mesma hora, sendo os enunciados da responsabilidade do Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE) do ME.
Segundo o presidente da SPM, estes testes deveriam ter o estatuto de exames nacionais, com efeitos nas notas dos estudantes no final do ano, ao mesmo tempo que deveria ser elevado “bastante mais” o nível de rigor. Estes testes deveriam ser uma medida de avaliação real dos alunos. Tal como são actualmente, são encarados pelos alunos como algo facultativo, não sendo também levados a sério pelos professores, o que torna a sua fiabilidade muito baixa”, acrescentou.
Nuno Crato acrescenta que as provas dos últimos anos analisadas pela SPM “desincentivam ao estudo dos alunos, por terem um grau de exigência muito baixo”. “Queremos dar sempre o benefício da dúvida ao GAVE e à nova equipa ministerial. No entanto, as provas intermédias do 12.º ano, por exemplo, não nos asseguram nada de bom, nenhum mudança ao nível da exigência”, apontou.
Por amostra
Pelo seu lado, a Associação de Professores de Português insiste de novo que as provas de aferição devem voltar a ser realizadas apenas em algumas escolas, por amostra, e rotativamente a todas as disciplinas de todos os anos de escolaridade. Segunda a vice-presidente da APP, Edviges Antunes Ferreira, este é um dos pontos centrais de um parecer que a associação está a preparar sobre as provas de aferição e que também deverá ser enviado ao Ministério da Educação na próxima semana.
Introduzidas em 1999, estas provas começaram por ser universais, apesar das classificações não contarem para a nota final, mas em 2002 passaram a ser realizadas apenas por uma amostra representativa de alunos. Em 2007, o ME, então dirigido por Maria de Lurdes Rodrigues, decidiu que os testes voltavam a ser aplicados a todos os estudantes dos dois anos de escolaridade.
“As provas de aferição deviam ser feitas por uma entidade independente, por amostra, em todos os anos de escolaridade e a quatro disciplinas por ano lectivo”, defendeu a responsável.
A APP vai defender ainda junto do Governo que os resultados sejam divulgados ergunta a pergunta e “atempadamente”, portanto antes do final do ano lectivo. “Quando os resultados saem os alunos já estão nas mãos de outros colegas”, evido à mudança de ciclo, lamentou.
Segundo Edviges Antunes Ferreira, é uma “perda de tempo” realizar estas provas a todos os alunos, até porque, por amostragem, os resultados também são fiáveis. “Os professores estão demasiadamente preocupados em preparar os alunos para as provas de aferição”, afirmou.
Maioria positiva
Apesar de não contarem para efeitos de reprovação dos estudantes, as notas alcançadas nestas provas serão afixadas em pauta, possibilitando, segundo o Gabinete de Avaliação Educacional (GAVE), “uma reflexão colectiva e individual sobre a adequação das práticas lectivas”. “Os resultados das provas de aferição são, naturalmente, relevantes para as escolas e para os professores, para efeitos de suporte à tomada de decisões, nomeadamente em matéria de planificação e orientação das práticas pedagógicas e também de definição de prioridades na formação contínua dos docentes”, acrescenta o GAVE.
Depois de classificadas, as provas serão devolvidas às escolas para publicação das respectivas pautas posteriormente será facultada aos estabelecimentos de ensino a informação sobre o resultado do desempenho dos alunos a nível nacional e de escola.
No ano passado, a Língua Portuguesa, 91 por cento dos alunos do 4.º ano tiveram nota positiva, menos 1,5 pontos percentuais do que em 2008. Ao nível do 6.º ano, as notas negativas passaram de 6,5 para 11 por cento. Quanto a Matemática, a percentagem de negativas na prova de aferição do 4.º ano passou de 8,8 para 11 por cento, enquanto no 6.º ano registou-se igualmente um aumento, de 18,3 para 20 por cento.
A Lusa tentou obter também um comentário da Associação de Professores de Matemática sobre o modelo das provas de aferição mas não obteve resposta em tempo útil.
► PÚBLICO [03.05.2010]
Nenhum comentário:
Postar um comentário