quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Vergonhoso!

Queixa na Polícia não a salvou da morte

Alice morta a tiro pelo ex-companheiro na pastelaria onde trabalhava

2009-11-24

SUSANA OTÃO, COM JOSÉ MIGUEL GASPAR E ALEXANDRA SERÔDIO

Em dez dias, cinco mulheres foram assassinadas pelos companheiros. Ontem, segunda-feira, Alice Duarte, de 46 anos, não sobreviveu a um tiro de caçadeira, mesmo depois de já ter alertado as autoridades que sofria ameaças de morte.

Pouco passava das 10 horas da manhã quando António S. entrou na pastelaria “Real”, no centro de Santarém. Discretamente, passou pelos cinco clientes que tomavam o pequeno-almoço e abeirou-se da cozinha. Ouviu-se um estrondo. Um tiro. Maria Alice Duarte, de 46 anos, caiu inanimada. “Já está. Tinha de fazer justiça pelas minhas mãos”, disse o homicida, ex-namorado da vítima.

Agostinho Pereira, sócio de Maria Alice na pastelaria apercebeu-se do que tinha ocorrido e em segundos ordenou a todos os clientes para que saíssem do estabelecimento. Quando tentou dirigir-se ao homicida este apontou-lhe a caçadeira.

“Quando vi a Alice deitada no chão, ia no seu encalço, mas ele olhou para mim e apontou-me a arma à cabeça. Só tive tempo de me baixar e fugir também”, disse, emocionado, ao JN. Ao sair da pastelaria, Agostinho Pereira trancou a porta por fora, de modo a não deixar fugir o homicida. Mas, ainda antes de ligar para a polícia, ouviu um outro tiro.

António S., de 47 anos, ex-namorado da vítima, ainda tentou o suicídio. Apontou a arma contra si e disparou, mas atingiu apenas um braço. Foi transportado ao Hospital de Santarém, embora os ferimentos fossem de menor gravidade. Ficou, desde logo, sob a guarda da PSP.

Ao que o JN apurou, Maria Alice, natural de Amor, em Leiria, era divorciada e vivia com o filho de 19 anos na cidade de Santarém. Há cerca de dois meses tinha iniciado um relacionamento amoroso com António S., mas durou pouco. Há um mês, Maria Alice optou por colocar um ponto final na relação. "Ela chegou à conclusão que ele não era homem para ela. Andava sempre a viajar por causa do trabalho e ela quis acabar tudo", contou uma amiga da vítima.

No entanto, o homem não ficou satisfeito com a decisão e passou a telefonar regularmente a Maria Alice como intuito de reatar o relacionamento. Como esta nunca acedeu ameaçou-a de morte.

Fonte da PSP, confirmou ao JN que a vítima tinha, efectivamente, apresentado uma queixa por ameaças de morte contra o homicida e que o processo estava a seguir os trâmites legais normais.

Nestes casos, quando há lugar a uma queixa por ameaças, um crime contra a vida, as autoridades têm de informar o Ministério Público para que inicie uma investigação. Posteriormente se se apurar que se trata de violência doméstica, as autoridades caracterizam o crime de público e, nesses casos, podem ser decretadas medidas imediatas para salvaguardar a vítima. No caso, ainda decorriam as investigações.

Este foi o quinto homicídio, em dez dias, de mulheres às mãos de homens com quem mantinham ou haviam mantido uma relação. Um número que eleva para 25 os assassínios no contexto da violência de género ocorridos no último ano. Apesar do número ser muito inferior ao do ano passado, ― registaram-se 45 mortes ―, o flagelo preocupa as autoridades e a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), que hoje apresenta um estudo sobre a violência contra as mulheres.

Fonte: Jornal de Notícias

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