Aumento de mais de cinco por cento em relação ao ano passado
Dez mil interrupções da gravidez no primeiro semestre
No primeiro semestre de 2009 foram realizadas nos hospitais portugueses quase dez mil interrupções da gravidez, indicam dados da Direcção-Geral de Saúde (DGS) apresentados, ontem, numa reunião médica, em Lisboa.
Os números disponíveis, em comparação com igual período de 2008, revelam um aumento de 5,5 por cento de abortos.
Lisa Vicente, chefe da Divisão de Saúde Reprodutiva da Direcção Geral de Saúde, alertou, contudo, para o facto de, até 2007, existir apenas estimativas acerca desta realidade, o que não permite comparar valores com rigor. Lisa Vicente explicou que 97 por cento das 9972 interrupções foram realizadas por opção da mulher, com base na lei, em vigor desde 2007, que despenalizou o aborto até às dez semanas de gravidez. No número total incluem-se as malformações congénitas.
A grande maioria das mulheres que recorreu aos estabelecimentos de saúde para interromper a gravidez inclui-se na faixa etária dos 20 aos 30 anos. Em 40 por cento dos casos, as mulheres ainda não tinham filhos.
Os mesmos dados revelam que a maior parte dos abortos foram feitos em Lisboa, a grande maioria (70 por cento) nos hospitais públicos com recurso a medicamentos. Trinta por cento das interrupções foram realizadas em estabelecimentos privados por meios cirúrgicos e com anestesia geral.
No que respeita às complicações de abortos, verifica-se, nos últimos anos, uma “significativa diminuição”, particularmente dos casos mais graves, de acordo com os dados apresentados por Lisa Vicente. Entre essas complicações, foram consideradas as resultantes de interrupções admitidas no quadro legal e no quadro ilegal quando ultrapassam as dez semanas que a lei prevê. Os abortos incompletos, as infecções e as perfurações, constam entre os problemas que exigem internamento.
A médica obstetra Beatriz Calado, ex-quadro da DGS, com muito trabalho realizado no âmbito do planeamento familiar notou, na sua intervenção, que o aborto “não é a melhor solução”, mas “tem de estar disponível com qualidade”.
Beatriz Calado fez também referência às características das mulheres e dos casais que interrompem a gravidez, sublinhando a importância da sua situação sócio-económica. São “trabalhadoras não diferenciadas, desempregadas e estudantes”, explicou, adiantando que a maioria provém das periferias urbanas.
Dados divulgados pela Clínica dos Arcos, referentes aos primeiros oito meses deste ano, indicam um total de 4183 interrupções, mais 678 do que no ano passado.
Lisa Vicente notou ainda que o aumento do recurso aos serviços de saúde pelas mulheres que optam pela interrupção da gravidez, pode ser interpretado com o facto de se “sentirem agora mais confortáveis em aceder aos serviços” e chamou a atenção para o objectivo fundamental da despenalização do aborto que consistiu em tornar as interrupções “mais seguras”.
Fonte: PÚBLICO
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