Conta a “Folha de S. Paulo” que, depois de a sua casa ter sido assaltada, o deputado brasileiro António Salin Curiati (PP) criticou as políticas sociais da presidente Dilma que “agracia[m] a comunidade carente, e eles começam a ter filhos à vontade”, defendendo que é preciso controlar a natalidade dos pobres, já que, se não chegarem a nascer, “eles” não andarão por aí a assaltar casas. Invocou, a propósito, o exemplo dos países em que se decepam as mãos aos ladrões, embora assegurando que não concorda com o método (pois seria decerto humilhante ser assaltado por pobres com cotos em vez de mãos).
Controlar a natalidade dos pobres (castrá-los, por exemplo; julgo que, há uns anos, houve um projecto do género na Índia) pode ser uma boa ideia mas põe alguns problemas. Se os pobres não tiverem filhos, o que é que os ricos comem? E quem pagará impostos? E quem trabalhará para os ricos e morrerá por eles nas guerras com que os ricos ficam mais ricos? E pior: sem pobres, como é que os ricos poderão praticar as acções de caridade com que obtêm perdão por tudo quanto fazem na Terra, dormindo de consciência tranquila e reservando suites de luxo no Céu?
Eu sei que os pobres são maus e assaltam os ricos e que, em contrapartida, os ricos nunca assaltam (nem através das leis do trabalho e dos bancos) os pobres. Mas não seria mais prático, em vez de castrá-los, obrigá-los a assaltar apenas pobres como eles?
Nenhum comentário:
Postar um comentário