domingo, 21 de agosto de 2011

«OS INDEPENDENTES»

No meio da crise financeira, económica e, muito especialmente, de valores que este mundo globalizado enfrenta, está a impor-se crescentemente perante a opinião pública a figura política do chamado ‘independente’.

Não se trata de um personagem novo, mas a sua relevância social e política, tal como atualmente surge aos olhos dos cidadãos, é relativamente recente.

Este facto não deveria deixar ninguém indiferente pelos motivos que estão subjacentes à sua popularidade.

Com efeito, se ‘independente’ significasse apenas não ter filiação partidária, a questão não seria relevante, bem pelo contrário.

O recurso aos independentes é sempre positivo porque, desde que associado à competência, significa o alargamento do campo de recrutamento dos protagonistas políticos, em vez de essa seleção se afunilar aos militantes dos partidos políticos.

Só que a ideia do mérito do ‘independente’ não se limita a este aspeto meramente partidário, mas antes ao facto de ser apresentado como um penhor de isenção perante questões de natureza pública, alguém que por não estar supostamente obrigado a fidelidades partidárias está em melhores condições para decidir de acordo com o interesse coletivo.

Sendo este o mais elementar princípio ético exigível a quem desempenha funções públicas, percebe-se a sua crescente aceitação na opinião pública.

A independência passou a estatuto, uma mais-valia no currículo, um atributo determinante para o desempenho de funções públicas.

Os próprios responsáveis políticos reforçam esta convicção quando sublinham e louvam o apartidarismo dos selecionados, o que é uma forma enviesada de reconhecer que os militantes dos partidos políticos não são os mais isentos na defesa do interesse público porque se deixariam facilmente subjugar por outros interesses em busca de benesses apetecíveis.

Ainda há dias, a sra. Merkel propunha a constituição de um organismo destinado a acompanhar a execução de certas políticas por parte dos países membros da União Europeia, donde decorreria a aplicação de sanções aos países incumpridores, mas exigia como critério que os membros desse organismo fossem independentes!

Infelizmente as reservas ao comportamento dos políticos têm, em muitos casos, o seu fundamento mas como o sistema democrático se baseia em partidos políticos o caminho é regenerá-los, credibilizá-los e enobrecê-los e não estigmatizá-los no discurso oficial.

Convém lembrar que a filiação num partido político não pode ser subestimada porque é a forma mais transparente de atuar perante os cidadãos.

Trata-se de uma opção individual que tem o mérito de o identificar e expor ao debate as principais ideias que se defendem e pelas quais se está disposto a lutar sem ser de forma clandestina ou secreta.

Combater os erros dos partidos políticos através da sua secundarização é não atacar o essencial.

Depois não se queixem.

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Expresso N.º 2025 | 20 AGOSTO 2011

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