quinta-feira, 7 de julho de 2011

Desabafo de uma Professora

Professora, até ontem

O meu nome é Sónia Mano, até ontem era professora de Matemática na escola E.B. 2,3 de S. Torcato, em Guimarães (onde me encontrava a trabalhar com contrato a termo incerto). Hoje de manhã, por volta das 9h, recebi um telefonema da Secretaria da referida escola a informar-me de que o meu contrato de trabalho cessara no dia anterior.

Até aqui, poderá pensar-se... é uma coisa natural, mais uma professora dispensada do serviço após mais de seis meses de trabalho árduo com alunos oriundos de meios socioeconómicos muito desfavorecidos: Até eu estava já preparada para a eventualidade de receber a notícia nestes moldes. Mas e o que é feito do prazo legal de três dias para avisar um empregado de que o seu contrato vai terminar? Eu sou apenas mais uma das vítimas do Estado e da actual conjuntura que o país atravessa.

Mas o porquê do meu e-mail vai muito para além das queixas para com o sistema. É mais um grito, uma tentativa de que dêem algum tipo de atenção a certas situações que estão a acontecer neste país. Como eu, fo- mos várias as pessoas dispensadas hoje de manhã, ou melhor, informadas hoje de manhã de que o nosso contrato terminara no dia anterior. Não será isto mais uma vergonha do nosso país? Não há qualquer respeito pelos profissionais, nem pelo seu trabalho e esforço.

Mais acrescento, neste meu desabafo, que iniciei, a meio da semana passada, a correcção de EXAMES NACIONAIS do 9.º Ano! Este trabalho, não está concluído! Termina apenas amanhã, dia 8 de Julho. Entretanto, já amanhã, tenho uma reunião para aferição de critérios de avaliação, reu- nião essa de carácter obrigatório. E agora eu pergunto: O MEU CONTRATO DE TRABALHO E A MINHA LIGAÇÃO AO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO TERMINOU ONTEM. Como vão os alunos ter avaliação no referido exame? Quem vai suportar as despesas de deslocação de Vila Verde (minha residência oficial) até Guimarães?!

Hoje a minha vontade é não entregar os Exames, mas mais forte do que essa vontade é a necessidade de nunca prejudicar os alunos por causa de mais um erro do nosso sistema de ensino. Amanhã, eu irei suportar despesas de deslocação e voltarei a fazê-lo na sexta para entrega dos Exames. Durante esses dois dias, vou fazer uma aplicação criteriosa dos critérios de classificação. Mas precisava de fazer este desabafo: parem de chamar incompetentes aos professores portugueses, aqueles que lutam todos os dias por melhores condições numa escola cada vez mais pobre em valores, tais como a entre-ajuda e a solidariedade. Ajudem-nos a ajudar os vossos/nossos filhos a crescerem como cidadãos e, por favor, na luta pelos meus direitos enquanto trabalhadora/professora/EDUCADORA. Ajudem- -me a divulgar este caso que é apenas mais uma das vergonhas em que o nosso Estado está envolvido!

Tenho provas e documentos oficiais que comprovam cada uma das afirmações que estou a divulgar. Não sei mais onde me dirigir: é preciso que os portugueses saibam o que se está a passar numa escola pública de Portugal.

Sónia Mano

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Diário do Minho

QUINTA-FEIRA | 7 de Julho de 2011 | Ano XCII | N.º 29 277

19 comentários:

OLima disse...

O mais dramático, e, se quiserem, irónico, é que esta Colega certamente tem de ser avaliada...

Maria CR disse...

Acho todo este sistema um exemplo do que vai ser o nosso futuro, escuro e incerto. Estou solidária com esta situação, eu que sou de um um agrupamento e pertenço a um quadro de pessoal. Até quando? Não sei, mas de dia para dia vejo Portugal a afundar-se. Tenho filhos e temo por eles. São adultos e vão precisar de trabalhar. Dá vontade de não entregar os exames...

cpts

Olinda disse...

Estou solidária consigo. Vou divulgar este post no blogue do Paulo Guinote - A Educação do Meu Umbigo - e aconselho a colega a mandar-lhe um mail com todas as explicações deste caso. O blogue é o mais lido por professores, jornalistas e alguns políticos. Lute! Tem a solidariedade de todos os colegas.

Colega de Matemática disse...

O quê??? Ir entregar os exames por conta própria?? Era só o que mais faltava! Não sejas conivente com isso!!! É por essas e por outras que eles continuam a fazer de nós o que querem!!
Além do mais tens o direito às férias e das duas uma ou tas pagam ou tens direito a gozá-las e o contrato irá terminar no fim das férias.

Anônimo disse...

Colega, tens de recorrer ao sindicato que vai enviar para o contencioso.
O mesmo se passou comigo, e logo prolongaram o contrato. Mas isto só lá vai com ameaças e o uso dos seviços do sindicato.

Anônimo disse...

O que estão a fazer a esta colega aparenta ser ilegal e até mesmo uma grande sacanice!

A colega tem o dever (obrigação legal!) de corrigir, classificar e devolver os exames mas está legalmente impossibilitada de comparecer às reuniões de classificadores, assinar as provas que corrige ou realizar qualquer outro acto administrativo em falta, visto já não ser funcionária do ME.


Televisões com o caso... contestação do fim do contrato junto do tribunal administrativo...
e esperemos que os responsáveis sejam punidos.

outrocolegasolidario

Anabela Magalhães disse...

Vim do blogue do Paulo e fiquei estarrecida com esta história.
Vou ampliar.

Anônimo disse...

nao entregue os exames tem q aprender a n maltratar os profs,estamos solidarios consigo e n lhe podem fazer nada pois ja n esta ao serviço
coragem p ver se nos respeitam!!!

PG disse...

Há aqui qualquer coisa que não bate certo ou então a escola desta colega não sabe a quantas anda... Vejamos: o contrato a termo incerto só pode cessar quando o docente que estava a ser substituído regressa ao serviço ou, no caso deste não ter regressado, porque já não há serviço para o substituto. Em qualquer dos casos, e porque estamos a menos de 30 dias de concluir as avaliações finais do
9º ano,a professora substituta não podia cessar contrato enquanto não estivessem concluídas essas avaliações (ou seja, a correcção dos exames e os conselhos de turma para lançar as classificações dos exames e os termos). Para além disso, a cessação do contrato não pode ser comunicada por telefone e com efeitos retroactivos...

Anônimo disse...

A colega não tem qualquer obrigação legal de classificar as provas uma vez que se encontra desempregada. Percebo a sua preocupação ética mas o problema deixou de ser seu. Comunique ao responsável do agrupamento a situação e a sua indisponibilidade para as classificar. O responsável do agrupamento terá de providenciar a recolha das provas e, quase de certeza, vai distribuí-las pelos supervisores.
Pensava eu que já tinha visto de tudo, mas esta é inqualificável. No privado acontece com muita frequência, mas no que respeita ao trabalho de relator em Agosto. É óbvio que esses colegas eram imediatamente desconvocados e, pelo menos, sabiam de antemão que isso ia acontecer, agora deste modo nem há palavras.

lmb disse...

Simples. Muito simples, como professora devia saber como proceder neste tipo de situação. Pega nos exames, embrulha-os no papel mais rasca que encontrar e envia-os para o senhor Nuno Crato. Simples!!!!
Se o não fizer, se classificar os exames que lhe restam e os for entregar à escola, é sinal que não merece ser professora, não deve sequer lidar com jovens em formação porque quem se rebaixa, quem não se indigna e age em conformidade, não pode ser exemplo para ninguém. Quem não se dá ao respeito, não merece ser respeitado. É este o mal dos professores. Só sabem lamentar-se -apesar de terem razão - mas não conhecem as leis que nos regem e não são capazes de dar a resposta adequada às afrontas que os (i)responsáveis nos fazem.

Ana Guedes disse...

Colega,
Atenção que ao corrigir os exames, tê-los em sua casa, ir entregá-los, pode estar a cometer um acto ilegal! Exponha o caso junto do seu agrupamento e dê conhecimento ao GAVE, JNE, ME e televisões.
É absolutamente inqualificável aquilo que lhe fizeram. Não há qualquer respeito!
Um abraço solidário.

Jos disse...

É escandalosa a situação relatada, mas reflecte a tremenda precariedade, que de resto se tem acentuado, em que os contratados trabalham! Qd daqui a 20 anos houver falta de professores terão q contratar imigrantes, tal como em Inglaterra. É muito digno e dignificante q a colega entregue os exames!

Anônimo disse...

Colega, tanto quanto sei o contrato só deve cessar depois do docente gozar as férias, tendo realizado todo o serviço que lhe foi distribuído, nomeadamente correcção de exames e reuniões de avaliação. Informe-se

Anônimo disse...

Colega, tanto quanto sei o contrato só deve cessar depois do docente gozar as férias, tendo realizado todo o serviço que lhe foi distribuído, nomeadamente correcção de exames e reuniões de avaliação. Informe-se.

Anônimo disse...

Lamentável! Vergonhoso! A colega tem direitos, o contrato deveria ser prolongado pelo menos até terminar o serviço que tem, e a escola podia (legalmente) ter feito isso. É uma situação a ser denunciada no sitio certo, isto devia ser gritado aos 4 ventos, é favor chamar a televisão, a rádio, escrever ao Sr. Presidente da Republica e tudo o mais que lembre. Estamos muito pobres neste país e não é por não haver dinheiro!

O meu canteiro disse...

Olá colega, realmente é uma situação muito desagradável. Mas o meu conselho é que se diriga ao sindicato e esponha a sua situação. Na minha escola também tentaram fazer isso, mas quando a colega que por acaso era directora de turma disse que então já não se iria apresentar nas matriculas, o caso mudou de figura. depois disseram-lhe então que continuava ao serviço até já não ter actividades marcadas, depois entraria de férias e só quando as férias acabassem é que o contrato acabava. Lute, que vale a pena. Um abraço solidário. CB

Sonia Mano disse...

Falta talvez esclarecer: antes da carta escrita já tinha ido devolver os Exames ao Director da Escola, que se recusou a recebê-los, alegando que ia arranjar uma solução...(que até hoje não foi encontrada). Após esse contacto fui com os Exames na mão devolvê-los ao Agrupamento de Exames de Guimarães, também eles se recusaram a ficar com eles... só após todas estas diligências, veio o desespero final e a comunicação pelo único meio que encontrei para denunciar a situação...

Ana Biscaia disse...

completa solidariedade. há escândalos por toda a parte!