Textura do medo
É inegável: o medo apoderou-se dos professores. Ele está presente nas entranhas conscientes e inconscientes, e condiciona quase todas as suas atitudes. O medo é superior ao poder concedido aos directores e mesmo superior ao texto da Lei. O medo é a própria Lei.
Os professores, nas diversas funções e cargos que desempenham, já não questionam, já não querem saber as razões, os fundamentos, o porquê e o para quê; já não querem saber se isto ou aquilo está consignado num texto legal: aceitam, cumprem, obedecem, acumulam tarefas, responsabilidades… porque têm medo. Têm medo quando pensam, quando executam e quando avaliam a sua acção. Em todos esses momentos, a ideia de se justificarem está omnipresente e é omnipotente. Os professores têm medo das retaliações legais que este novo statu quo permite.
Sinceramente, acho que ainda não sinto esse medo. Mas tenho medo desse medo que leio nas atitudes dos professores deste país. Tenho medo do amanhã que ele anuncia. Gela-me, ensombra-me a alma, faz-me ter vontade de não querer! Enfim, destrói-me!
Nós, todos nós, ensinamos muito mais aquilo que somos do que aquilo que sabemos. Para mim, isto é tão cristalino como água de nascente. Assim sendo, o que pode o amanhã esperar de uma geração de professores vergados à obesidade do medo? Que espécie de educadores poderemos ser? Como poderemos ajudar a formar homens livres, se aprisionámos, se castrámos em nós a liberdade de pensar e de agir? Como poderemos preparar as nossas crianças e os nossos jovens para o exigente tempo que se afigura, se temos a vontade algemada, se temos a consciência oprimida, se… já não sabemos quem somos nem o que andamos a fazer como autómatos?
Mesmo neste silvado de desvalores, a estrela polar de qualquer professor, de qualquer educador, deve permanecer luzente no firmamento da sua postura, pois é nela que, consciente ou inconscientemente, o sextante dos seus alunos se vai fixar. É essa estrela que eles vão seguir para serem. E é essa a raiz do meu medo: que os nossos alunos não consigam ver em nós estrela nenhuma! Apenas um pedaço de noite calada e triste!
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