domingo, 10 de julho de 2011

Boaventura Sousa Santos: «Não podemos esquecer a responsabilidade do atual Presidente da República»

A sua perceção é a de que cometemos erros crassos quando negociámos a integração na União Europeia... Um dos nossos grandes erros foi termos voltado as costas às ex-colónias. Outro foi o modo como gerimos muito mal os fundos europeus e aceitámos algumas normas que devíamos ter discutido. Não podemos esquecer a responsabilidade do atual Presidente da República: foi ele que mandou abater os barcos, cortar as oliveiras e cortar as vinhas, porque era uma maneira de receber subsídios. E foi ele quem impediu as universidades de gerirem os fundos para cursos de formação para requalificarem a mão de obra portuguesa, o que deu na maior corrupção da história portuguesa, com cursos, professores e diplomas fantasmas.

A que se refere quando fala de “fascismo social”? O fascismo social é um conceito que tenho vindo a desenvolver para tentar mostrar que na situação em que a gente se encontra muitas pessoas pensam que pode haver um regresso ao fascismo. Não vejo a possibilidade de emergência de um fascismo político. Até porque o neoliberalismo teve esse papel de promover uma democracia representativa, o que não é a mesma coisa que uma democracia com políticas sociais. O imaginário democrático entrou no imaginário social e por todo o lado triunfou a exigência de governar por consenso. Só que a democracia restringe cada vez mais o espaço político e deixa todos os outros espaços ao abrigo das relações de poder que uns têm sobre os outros e que não é um poder democrático. É o que está a acontecer no campo do trabalho, em que o trabalhador fica constrangido a aceitar quaisquer condições. É aquilo a que chamamos conciliações repressivas. A isto chamo “fascismo social”: são relações sociais muito desiguais que dão a alguns que têm mais poder um direito de veto sobre a vida das pessoas. Uma das formas de fascismo social é o do poder das agências de rating, que podem destruir todas as nossas expectativas de vida de um dia para o outro, com base em apreciações arbitrárias e subjetivas. Aliás, como é possível que estas agências funcionem depois do falhanço de que deram provas em 2008?

Nota: Extracto da entrevista do sociólogo Boaventura Sousa Santos

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ATUAL | Expresso N.º 2019 | 9 JULHO 2011

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