Avaliação do 2.º período
Professores queixam-se de «pressões» para não dar negativas
Por Margarida Davim
«Há pressões, sempre houve», garante Paulo Guinote, autor do blogue A Educação do Meu Umbigo, que publicou o cabeçalho dos testes de uma escola básica, onde os alunos devem assinalar com uma cruz o grau de dificuldade da avaliação
Ana (nome fictício) tem sete turmas: o que quer dizer que, por estes dias, vai acumular cerca de 14 horas só em reuniões de avaliação dos seus alunos. Pelo meio, ainda tem de preparar pilhas de documentos, para garantir o sucesso dos alunos: «Temos de apresentar planos de recuperação, planos de acompanhamento para os repetentes e planos de recuperação extraordinários para o que chumbaram nas provas de recuperação».
O objectivo é provar «que se fez tudo para que aquele aluno não chumbe no fim do ano». E tudo tem de ser bem justificado na reunião do Conselho de Turma ─ formado por todos os professores de cada uma das turmas.
«Qualquer professor ‘sente’ que há uma ‘pressão do Ministério’ para que haja sucesso a todo o custo», diz Ilídio Trindade, do MUP (movimento de Mobilização e Unidade dos Professores), que fala numa «obsessão pelo sucesso estatístico».
Trindade dá exemplos: «Se os alunos não concluírem determinado módulo, o professor tem de fazer um exame no fim do curso para que o aluno tenha aproveitamento. O professor tem de fazer provas de recuperação umas atrás das outras até que o aluno consiga passar. Ora, isso é um autêntico convite a uma imediata classificação positiva».
Outra forma de «pressão» é feita através da carga burocrática exigida aos docentes que dão notas baixas. «A obrigatoriedade de o professor ter de justificar e fundamentar muito bem, e por escrito, por que atribuiu uma percentagem inferior a 50% de classificações positivas é um exemplo de pressão», conta.
Paulo Guinote, autor do blogue A Educação do Meu Umbigo, sublinha que «sempre houve pressões». Mas afirma que «talvez agora elas se sintam um pouco mais».
No seu blogue, colocou mesmo aquilo que considera ser um exemplo da forma se tenta dissuadir os professores de dar negativas: o cabeçalho das folhas de teste da EB 2 . 3 de Santo António, na Parede, onde os alunos são convidados a dar opinião sobre o grau de dificuldade da avaliação.
«A ficha de avaliação foi: fácil, acessível, difícil», pode ler-se na folha de exame.
«Durante as reuniões também não é raro que se verifiquem pressões inter-pares, nem sempre muito subtis, para melhorar notas, em especial quando isso significa aumentar os níveis e sucesso», assegura Guinote.
O professor já sabe que vai ter de fazer «uma justificação em acta com diversos parágrafos a explicar as razões» das várias negativas que terá de dar neste 2.º período. Mas garante que já não se sente afectado pelas pressões.
«Já não me acontece há diversos anos, por razões que considero resultantes de ter passado a ficar mais tempo nas escolas e perceberem a inutilidade do acto», contou ao SOL, lembrando as pressões de que foi alvo quando deu notas negativas «à filha de uma personalidade importante da localidade onde leccionava».
Fonte: SOL