A ausência de liberdade de voto na bancada do PS, no que ao casamento de homossexuais diz respeito, não me surpreendeu, o que é triste e preocupante. Admitamos que ela existia, qual seria o resultado prático? Uns votariam contra por convicção; outros por considerarem necessário um debate social prévio - posição que respeito - e o tema não constar do programa do partido na campanha eleitoral; outros por saberem que "lá em cima" esperavam que o fizessem; outros refugiar-se-iam na abstenção; e outros votariam a favor. Alguém acredita que o projecto de lei passaria? Assim, nem sequer por razões da famosa real politik a decisão se justifica. Quanto a "não andar a reboque de ninguém" é um argumento inacreditável, pressupõe não apoiar as boas - ou más! - ideias dos outros pela simples razão de virem..., dos outros! Estranho conceito de democracia:(.
Para alguém da minha geração, foi especialmente doloroso ver Alberto Martins como rosto e voz do processo, pela sua importância no imaginário de tantos universitários. Das catacumbas da minha lúcida cobardia, consegui às vezes imaginar-me capaz de pedir com ele a palavra, para escândalo horrorizado e fugitivo de um Presidente da República filho da mais despudorada batota eleitoral; mas recuava perante a simples evocação das consequências, era do contra dentro dos limites do meu comodismo burguês. Ficou a admiração grata pelo seu acto, pois não se tratou de simples gesto.
Por isso busco refúgio pobre na convicção de que, passados quarenta anos, este episódio lhe deixa um sabor amargo em boca e memória. E reforço outra, que norteou ao longo de uma vida a minha intervenção política e cívica - nunca poderia ser um homem de partido. Considero obscena a disciplina de voto em matérias como esta, a lealdade não pode viver à custa do suicídio da consciência.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
OPINIÃO - Júlio Machado Vaz: «Melancolia»
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