CRÓNICA - Santana Castilho: «Truques»

O meu primeiro trabalho foi para o fisco. Tinha oito anos e rendeu-me vinte e cinco tostões de então. Não sei bem o que era, apenas que devia copiar nomes e números para umas cartolinas de grande gramagem, com aquela letrinha quase desenhada que aprendíamos na escola de então. O responsável por esta precoce (e saudosa) exploração de mão-de-obra infantil era um parente afastado na genealogia mas próximo no coração, primeiro oficial de uma repartição de finanças. Um dia trouxe muitas folhas impressas e tentou mostrar-me onde estavam lá os vinte e cinco tostões do meu trabalho. Fracassou. Ficou triste e disse-me que quando eu fosse "maiorzinho" me havia de ensinar a ler um orçamento de Estado. Aquilo era um orçamento de Estado, que tinha vinte e cinco tostões de trabalho meu. O cancro com que se finou, pouco tempo depois, não o deixou cumprir a promessa. Mas eu aprendi sem ele.
O orçamento de Estado para 2009 é um orçamento fracassado. Porque estagna em vez de desenvolver; porque não responde à chaga do desemprego, aumentando-o antes (os 7,6% previstos, já de si calamitosos, vão ser ultrapassados); porque não nos devolve o que há anos nos rapinam. E está cheio de truques! Sabemos bem que as previsões do Governo falham sempre, mas tínhamos direito a um pouco mais de decoro. (...)

Fonte:

ESCOLA Informação