Educação
As mudanças no sector educativo foram igualmente muito importantes. O número total de alunos a frequentar todos os graus de ensino era, em 1960, de 1 140 000; é hoje de cerca de 2 290 000. Este aumento é tanto mais de assinalar quanto houve um decréscimo demográfico nas classes jovens e nos primeiros seis anos de escolaridade obrigatória. No mesmo período, o número de docentes de todos os graus, nos sistemas público e privado, terá subido de perto de 50 000 para mais de 180 000.
Apesar desta evolução muito significativa, a população activa portuguesa, no seu conjunto, na década de 1990, ainda exibe graus de instrução e formação escolar muito baixos. Assim, ainda 66% dos activos têm instrução limitada a quatro anos de escolaridade primária ou menos. Por outro lado, apenas 7% da população activa ou 5% da população residente frequentaram ou completaram um curso superior.
O analfabetismo, a cerca de 10%, é ainda alto, o primeiro de Europa. Mas limita-se hoje à população adulta, assim como, talvez, a alguns jovens africanos imigrados. Esta situação não se ficou a dever à “educação de adultos”, intenção proclamada por todos os governos, antes e depois da revolução de 1974, mas tão só à morte gradual dos mais velhos e à integral escolarização dos mais novos. A frequência do ensino básico de seis anos é de muito perto de 100%. O número de crianças nos dois primeiros ciclos do ensino básico, até ao sexto ano, está em diminuição marcada: se, hoje, estão matriculados, nesses graus, cerca de 900 000 alunos, esse valor era, há dez ou quinze anos, superior a 1 400 000 alunos. A queda da natalidade é, evidentemente, a primeira responsável por tal fenómeno.
Já a frequência do ensino secundário não parou de aumentar: quadriplicou em trinta anos, passando de 107 000, em 1960, para mais de 435 000 em 1994. No ensino superior, a evolução é ainda mais drástica: mais do que decuplicou nas três décadas, passando de 24 000, em 1960, para mais de 270 000, em 1994. No sistema público, o número de estudantes cresceu de 22 000 para 170 000; e no privado, de 3 000 para 100 000. De modo mais nítido do que noutros sectores sociais, a maior parte do crescimento do ensino superior ocorreu depois da revolução: em 1975, os estudantes eram cerca de 70 000.
Como já foi referido, deve salientar-se o facto de as mulheres constituírem a maioria dos estudantes do ensino superior: quase 60% do total, sendo apenas de 29% em 1960. Interessante também é o facto de as mulheres exibirem uma taxa de sucesso, ou de conclusão dos cursos, superior aos homens e, com 66%, acima da sua própria percentagem de frequência.
Para o conjunto do sistema educativo, o número de docentes aumentou sempre e de modo muito significativo. Em certo sentido, aumentou mais do que o número de alunos e estudantes, traduzindo tal facto uma evolução marcada dos métodos de ensino. No terceiro ciclo do ensino básico (7.º a 9.º anos de escolaridade), por exemplo, o número de docentes passou de cerca de 16 000 para mais de 103 000, com uma evolução muito rápida a partir de meados dos anos setenta. O “ratio” alunos/professores era, em 1960, de 6,8 e, em 1993/4, de 3,9.
Também o número de docentes do ensino superior público e privado, universitário e politécnico, conheceu um acréscimo notório: 1 567 em 1960 e quase 24 000 em 199413. Também neste caso, o crescimento se iniciou, de modo evidente, no início da década de 1970, mas foi a partir dos anos oitenta que o ritmo se acelerou marcadamente. Os “ratios” alunos/professores demonstram a evolução seguida. Eram de 15,4 em 1960 e são de cerca de 11 em 199413. Do total de docentes, pouco mais de 16 000 pertencem ao sector público e cerca de 7 500 ao privado. Neste último, o crescimento rapidíssimo ocorreu a partir de 1986, ano em que foram autorizadas várias escolas superiores privadas.
A despesa pública com a educação, em percentagem do Produto, cresceu significativamente: 1.5% em 1960; 1.7% em 1970; 3.8% em 1975; 4.0% em 1985; e 5.5% em
13Estes “ratios” podem ser ilusórios, sobretudo quando comparados com os de outros países: Portugal teria, com efeito, uma das mais favoráveis situações do mundo, com reduzidos números de estudantes por professor. Ora, o sistema português é tal que os estudantes de pós-graduação, mestrandos e doutorandos, são muitas vezes contados como docentes, pois que desempenham funções de assistentes. Por outro lado, um número indeterminado, mas significativo, de docentes acumula funções em duas ou mais universidades, públicas e privadas. Nesses casos, um mesmo docente é contado tantas vezes quantas as funções que desempenha.
António Barreto e Clara Valadas Preto, Portugal 1960/1995: Indicadores Sociais, pp. 37-39
CADERNOS DO PÚBLICO N.º 8 - 1996
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