«Um contrato com muitas letras pequenas»
«Custa a entender o ar displicente com que alguns líderes políticos comentaram o acordo entre a troika e o Governo. [...] O plano que se cumprirá até 2013 é hipócrita. Não apresenta nenhuma medida bombástica capaz de arrebatar críticas generalizadas, mas impõe uma série de acções discretas que, em conjunto, talvez sejam piores do que os cenários criados nas últimas semanas pela ansiedade, o mau jornalismo e a propaganda. Globalmente, é mais severo do que tudo o que já foi apresentado. [...] Bem sabemos que não há alternativa realista a este brutal aperto, nem forma de contestar a imposição externa das bases de um programa de governo ao arrepio da democracia [...] Não haverá cortes de salários, mas acabaram as devoluções do IRS que faziam parte importante do planeamento financeiro das famílias; não há suspensão do 13.º mês, mas quem teve a má ideia de comprar casa vai deixar de poder deduzir encargos no IRS, vai pagar mais IMI e, como se o acordo não bastasse, vai pagar mais juros. As pessoas pagarão também mais nos transportes, na luz, nos hospitais e quem tiver uma reforma confortável terá de fazer contas. [...] Podia ser pior, podia ser como na Grécia, sem dúvida. Mas o que a troika nos deixa após estas semanas é uma batalha dura e longa. Não temos alternativa aos seus impactes e podemos aceitar que há que sofrer agora para rir no futuro. [...]»
Manuel Carvalho
PÚBLICO 08/05/2011
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