Inquérito feito em 33 países prova que portugueses têm mesmo uma auto-estima muito baixa
Portugal está em quarto, a contar do fim, no que toca à confiança e ao orgulho no próprio país
Os portugueses têm baixa auto-estima e isso, longe de ser novidade, há muito que alimenta conversas de académicos e de café. Mas agora é oficial: a auto-estima nacional é a quarta mais baixa de um ranking de 33 países, divulgado esta semana pela revista Economist.
O trabalho, elaborado por uma empresa internacional de consultoria, o Reputation Institute, pediu a cidadãos de diferentes nacionalidades que pontuassem a confiança, o respeito, a admiração e o orgulho relativamente aos respectivos países.
A Austrália ficou à frente, com os seus habitantes a revelarem pelo país um orgulho próximo do que nutrem pelo futebol, conforme sublinhava ontem a Economist. De seguida, os canadianos. Os norte-americanos, normalmente donos de um patriotismo à prova de bala, desceram para o meio da tabela, eventualmente “afectados pela recessão” económica e social.
Ao contrário da Espanha, colocada em nono lugar, Portugal surge nos piores lugares do ranking, à frente apenas do Brasil, da África do Sul e do Japão. Nada que surpreenda Vasco Graça Moura, que vê nesta baixa auto-estima nacional uma consequência directa do “divórcio dos portugueses em relação a realidades como a sua língua e o património”. Para o poeta e ensaísta, “enquanto não houver políticas de educação mais exigentes, o país não tem saída”.
“Portugal está cada vez mais transformado num país de analfabetos em relação ao seu próprio país. Acho lamentável que tudo isto se passe assim, com a literatura transformada numa espécie de papel higiénico e os próprios políticos a correr atrás da primeira moda com que se lhes acene”, critica Graça Moura.
A campanha publicitária Allgarve, destinada a promover a região no estrangeiro com o patrocínio do ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, é, para aquele poeta, “prova dessa estupidez nacional que descaracterizou o país”.
Sentimento de inferioridade
O sociólogo Manuel Villaverde Cabral, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, também vislumbra na “estrangeirização” do nome “um sinal do sentimento de inferioridade que os portugueses têm em relação aos outros países”.
Recusando embarcar em generalizações abusivas, até porque desconhece o ranking em causa, Villaverde Cabral arrisca que a baixa auto-estima dos portugueses poderá derivar das relações que os diferentes grupos sociais estabelecem entre si.
“A forma como as relações de poder dentro do país são percepcionadas pelas pessoas geram insatisfação relativamente ao desempenho social de cada um. Há aqui uma susceptibilidade ao olhar do outro que, no fundo, tem a ver também com os termos de comparação. Na Índia [nos lugares cimeiros do ranking], a auto-estima é elevada porque a privação é muito grande e os pobres comparam-se aos pobres. Portugal, quando estava sozinho, como no tempo de Salazar, não sofria com as comparações, mas agora está em competição na União Europeia e em curva descendente nos últimos dez anos”, diz.
Para Villaverde Cabral, a educação poderia ser a solução, “desde que a escola não tivesse desistido dos chumbos e dos exames e não tivesse medo de confrontar as pessoas com os seus êxitos e com os seus fracassos”.
Natália Faria
Fonte: PÚBLICO
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