sábado, 9 de abril de 2011

OPINIÃO > Manuel Maria Carrilho: «O carrossel»

Neste começo de pré-campanha eleitoral, um traço se destaca: o da aguda irresponsabilidade política que atravessa o espectro político-partidário, que patina num exasperante charco do passa-culpas.

O País vê-se assim nas mãos de partidos virados para os seus umbigos e para os seus interesses de curto prazo, refém da lei que lhe reserva um intolerável exclusivo da representação política parlamentar. É vital acabar com este garrote que cada vez mais descredibiliza a nossa democracia.

O que temos visto é circo — sem a arte do circo: enquanto uns insistem propostas completamente ilusórias, outros casmurram nos mesmos erros e outros, ainda, agitam miragens de consensos futuros, tão amplos como, na verdade, improváveis. E tudo isto enquadrado, no topo, por uma obsessão pelo poder que há muito esqueceu o interesse nacional.

Viram-se assim as costas ao País, que — e neste paradoxo reside a maior esperança — ainda parece melhor do que a política. País que, convém percebê-lo, paga hoje bem caro a sua confortável demissão da vida colectiva, que atinge entre nós (ao contrário do que se passa em países com mais tradição democrática) proporções catastróficas. Aqui não há inocentes: a responsabilidade política só alastra porque é consentida, quando não estimulada, pela irresponsabilidade da própria sociedade.

É por isso que se fala do Estado como se ele não tivesse nada a ver connosco, do endividamento (público, empresarial ou privado) como se fosse sempre um problema dos outros, e da crise como se de um inesperado meteorito se tratasse. Por isso se ignoram quase completamente as lições do passado e se fala do futuro com se ele dependesse do euromilhões ou de alguma varinha mágica. E, assim sendo, não admira que tudo acabe por convergir na autoflagelação do presente, fórmula bem conhecida de catarse da irresponsabilidade.

(Continua…)

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