A concepção de vulnerabilidade enquanto condição estrutural do ser professor (alguns até lhe chamariam “condição existencial”, Van Den Berg, 2002) ajuda-nos a compreender a grande variedade de diferentes emoções que a acompanham, em particular quando se lida com exigências de mudança. A falta de controlo total, o facto de os procedimentos de prestação de contas negligenciarem ou instrumentalizarem (e, desse modo, reduzirem) a dimensão interpessoal do ensino, a ausência de uma sustentação válida que justifique as suas acções enquanto professor constituem a real idade que os professores têm de suportar: não há como escapar. “Ensinar é ser vulnerável (...) ser vulnerável é ser capaz de ser ferido” (Bullough, 2005: 23). Isto explica por que tantos professores tomam uma posição positiva em relação aos padrões e aos testes estandardizados. Os padrões e os testes garantem a certeza ou são a prova final da “qualidade” de alguém enquanto professor — mesmo que seja uma certeza ilusória que requer uma compreensão (e experiência) muito redutora da relação educativa.
Por outro lado, a condição da vulnerabilidade é, ao mesmo tempo, o que constitui a grande possibilidade para o “pedagógico” acontecer numa relação interpessoal entre professores e alunos. A relação de uma ética e, desse modo, de um compromisso vulnerável abre a possibilidade de a educação (literalmente) “ter lugar”. Tal encontro faz com que o professor sinta que está mesmo “a fazer a diferença enquanto pessoa” na vida dos alunos. O prazer, o orgulho e a satisfação pessoal existencial são as emoções que o acompanham.
in Geert Kelchtermans (2009) O comprometimento profissional para além do contrato: Autocompreensão, vulnerabilidade e reflexão dos professores.
Com a devida vénia ao José Matias Alves,
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