Ultimamente,
tem-se instalado em alguns setores da sociedade portuguesa a ideia de que a
qualificação e a formação escolar de pouco ou nada servem para alcançar sucesso
profissional. Reconhecendo embora que existem, de facto, muitos jovens
qualificados que enfrentam o flagelo do desemprego, a questão que se coloca é a
de saber se, caso não tivessem qualificações, teriam mais êxito profissional ou
melhor acesso ao mercado de trabalho. A resposta é claramente negativa.
Nesta
fase da vida nacional, é natural que muitos jovens, desiludidos por falta de
oportunidades de mostrarem o que valem, decidam partir para outros destinos, em
busca do justo reconhecimento do seu mérito.
Nesta
fase, devemos adiar obras vultuosas e grandes realizações. Mas não podemos
hipotecar o futuro, comprometendo o investimento na educação das nossas
crianças e jovens. Esse investimento terá de ser seletivo, racional,
financeiramente rigoroso, orientado por prioridades, concretizado através de
uma política coerente que os Portugueses conheçam.
Temos
grandes desafios pela frente. Alguns que infelizmente permanecem, como é o caso
do combate ao abandono escolar. Segundo os dados publicados no último relatório
anual da OCDE sobre Educação, apenas 52 por cento da população portuguesa entre
os 25 e os 34 anos concluiu o Ensino Secundário, o que coloca o nosso país no
33º lugar em 36 países.
A
extensão da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano exigirá, assim, um esforço
suplementar por parte dos alunos e das suas famílias, bem como uma adaptação
das escolas e dos seus professores.
O
desafio da qualidade do ensino renova-se à medida que o número de anos de
escolaridade se alarga. Um ensino de qualidade, acessível a todos, é a melhor
garantia da igualdade de oportunidades, a chave de um país justo. Ninguém pode
ficar para trás.
A
Educação continua a ser o melhor investimento que cada um pode fazer no seu
futuro, o que é comprovado pelos mais diversos estudos internacionais.
Há
que valorizar os aspetos imateriais da Educação. As famílias, as crianças e os
jovens têm de perceber que vale sempre a pena estudar, trabalhar com esforço e
dedicação, buscar a excelência. Não podemos permitir que se instale a ideia de
que o sucesso se alcança por outros meios, de que não valerá a pena estudar,
uma vez que as qualificações académicas não são garantia de um melhor futuro
profissional.
Assim,
todos somos chamados a refletir sobre a escola que queremos. Uma reflexão sobre
os modelos de ensino, as competências e os conhecimentos que melhor respondem
aos complexos desafios do mundo de hoje e melhor preparam os jovens para os
enfrentar. Em suma, como pode a escola contribuir para uma maior
empregabilidade dos nossos jovens e para que a educação seja um impulsionador
da competitividade e da criação de riqueza no nosso país.
A
verdade é que temos de trabalhar mais e melhor na ligação entre o ensino e a
vida profissional, na correspondência dos conhecimentos e das competências
adquiridas às necessidades da economia e das empresas, sujeitas a uma crescente
competição a nível internacional.
Uma
maior articulação entre as escolas e as empresas, ao longo dos diversos níveis
de ensino, é um caminho que deve ser aprofundado.
Os
alunos devem ser preparados ao longo do seu percurso escolar para um ambiente
de maior exigência. Mas é essencial que se sedimente entre os alunos uma
cultura de liberdade e de responsabilidade. Os jovens devem ter consciência de
que ninguém os poderá substituir nos seus deveres e nas suas legítimas
aspirações de realização pessoal.
Por
sua vez, o papel dos
professores tem de ser valorizado e dignificado. O reconhecimento da ação fulcral
dos professores não assenta apenas em fatores materiais. Pressupõe, isso sim, a
valorização da escola, em articulação com as famílias e as autarquias, como
agente privilegiado de construção do futuro. A escola deve ser vista
como um espaço de exigência e de oportunidades. Se ambicionamos um futuro
melhor, temos de ambicionar ser melhores no futuro.
Para
alcançarmos esse objetivo, insisto, o papel dos professores deve ser reconhecido e apoiado. Neste
dia 5 de outubro, aniversário de uma República que se distinguiu pela sua
matriz pedagógica, quero expressar o meu público reconhecimento aos professores
que se dedicam e empenham na sua atividade de construtores do futuro. A todos
eles, muito obrigado. Em nome do Portugal de hoje, mas também em nome do Portugal
de amanhã.
É
certo que várias transformações estruturais da sociedade portuguesa, com
destaque para a baixa da natalidade, se irão refletir na dimensão do corpo
docente. Trata-se de uma questão quantitativa, que, todavia, não retira
importância aos aspetos qualitativos, à necessidade imperiosa de uma aposta
consistente na qualidade do ensino.
Sei
bem que tempos difíceis são tempos de contenção. Com menos, temos de fazer
mais. Mais e melhor.
As
funções dos professores ultrapassam em muito a estrita atividade letiva. A rede
de professores, disseminada pelo País, permite detetar situações de carência,
assinalar casos que necessitam da intervenção e do apoio do Estado.
Os professores têm também um papel
fulcral na articulação com a sociedade civil, especialmente com as famílias. O
futuro da Educação depende da participação da comunidade na vida da escola e de
uma articulação profunda entre família, professores e alunos. Em tempos de crise, essa articulação tem de ser mais
forte. Em tempos de crise, são estes laços, os laços mais próximos, mais
presentes e mais importantes nas nossas vidas, que devem começar por unir os
portugueses.
Por vezes, esquecemos que muitos dos
países mais desenvolvidos o são porque as suas comunidades integraram, desde há
longos anos, práticas sociais constantes de valorização da Educação e que é
isso que sustenta no tempo o seu desenvolvimento.
Num tempo dominado pela pressão do
imediato e pelo medo da privação de muitos dos bens materiais a que nos
habituámos, não podemos esquecer o valor da educação. Temos, aliás, o
imperativo republicano de o lembrar e de o colocar bem alto nas prioridades,
não apenas dos responsáveis políticos, mas de Portugal inteiro.