domingo, 24 de setembro de 2017

Resumo da obra «O Triunfo dos Porcos», de George Orwell

O leitor já terá ouvido a expressão “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”. Sabe qual é a sua origem ?

Tal expressão tem a sua origem na obra “O Triunfo dos Porcos”, de George Orwell, publicada no Reino Unido a 17 de Agosto de 1945 e apontada pela revista americana Time como uma das cem melhores da língua inglesa. 


Trata-se de uma obra literária cujas personagens são animais, a viver numa quinta cujo dono é o sr. Jones, na qual é contada uma história protagonizada por dois porcos, Snowball e Napoleão. Orwell recorre a animais para retratar fraquezas humanas e satirizar a luta pelo poder e o seu exercício.
Tudo começa quando consta que o velho Major, um porco muito considerado na quinta, que fora premiado numa exposição, tivera um sonho na noite anterior e que desejava transmiti-lo aos outros animais. Todos concordaram reunir-se no celeiro grande, logo que o sr. Jones se tivesse afastado. E assim foi. Reunidos no local combinado, Major alertou-os para o facto de levarem uma vida miserável, trabalhosa e curta, cujo culpado era o homem. Incentivou-os, pois, a libertar-se do jugo dele, advertindo-os: «Lembrem-se ainda de que quando lutamos contra o homem não devemos vir a parecer-nos com ele; nem, quando o vencermos, devemos copiar os seus vícios. Nenhum animal deverá viver numa casa, nem usar roupas, nem dormir numa cama, nem tocar em dinheiro ou comerciar. Todos os hábitos do homem são depravações. E acima de tudo nenhum animal deve tiranizar outro animal. Fracos ou fortes, espertos ou estúpidos – somos todos irmãos. Nenhum animal deve matar qualquer outro animal. Todos os animais são iguais.» (George Orwell, O Triunfo dos Porcos, Editora Perspectivas & Realidades, Lisboa, 1976, p.11
A seguir contou-lhes o seu sonho, que tinha a ver com a libertação de todos os animais.
Passadas três noites, Major morreu, enquanto dormia. Durante os meses seguintes houve muita actividade secreta. O trabalho de ensinar os outros recaiu naturalmente nos porcos, que eram reconhecidos como os animais mais inteligentes.
«Entre os porcos, salientavam-se, pela sua inteligência, Snowball e Napoleão, que Jones estava a criar para vender. Napoleão era um belo porco Berkshire, o único desta raça que havia na quinta. Não falava muito, mas era persistente nas ideias e sabia conseguir os seus fins. Snowball fora sempre mais vivo do que Napoleão. Falava mais rapidamente e tinha mais iniciativa, mas não o consideravam dotado de tão bom carácter. Todos os outros porcos da quinta eram de engorda. O mais conhecido, entre eles, era um gorducho, chamado Squealer, de faces redondas, olhos brilhantes, movimentos ágeis e voz penetrante. Brilhante falador, quando argumentava sobre algum ponto difícil costumava bambolear-se de um lado para o outro e menear o rabo, movimentos que, não se sabe bem porquê, ajudavam a persuadir. Os outros diziam que Squealer podia fazer do branco, preto.» (idem, ibidem, pp. 17 – 18) 

Depois da conquista do poder na quinta, duas facções se formam: uma liderada pelo porco Snowball, adepto do socialismo moderno e democrático, usando a astúcia e a argumentação para atingir o seu objectivo: a liderança do poder.
Ele próprio redige uma espécie de Constituição, cujo objectivo é regular o funcionamento da quinta. Tal Constituição comporta sete Mandamentos:
Um dia Snowball e Napoleão anunciaram que, «em consequência dos estudos feitos, os porcos, tinham conseguido condensar os princípios do Animalismo em sete mandamentos que iam ser escritos na parede, em grandes letras, mandamentos esses que constituiriam uma lei imutável, que regularia a vida dos animais para sempre». (idem, ibidem, p. 24)

Eram os seguintes os sete mandamentos:
1 – Tudo o que anda com 2 pés é inimigo.
2 – Tudo o que anda com 4 patas ou com asas é amigo.
3 – Nenhum animal usará roupa.
4 – Nenhum animal dormirá na cama.
5 – Nenhum animal beberá álcool.
6 – Nenhum animal matará outro animal.
7 – Todos os animais são iguais.

Snowball era infatigável em arranjar comissões de animais para vários fins. Pelo contrário, Napoleão não se interessava pelas comissões que aquele formava. «Dizia que era mais importante cuidar da educação dos novos do que da dos crescidos.» (idem, ibidem, p. 32)
Entretanto Jessie e Bluebell, tiveram filhos, nove bonitos cachorros. «Assim que foram desmamados, Napoleão tirou-os às mães, dizendo que queria responsabilizar-se pela sua educação. Levou-os para um sótão, aonde só se podia ir por meio de uma escada e conservou-os tão afastados do resto da quinta, que os outros animais depressa se esqueceram deles.» (idem, ibidem, p. 32) 
O leite e as maçãs da quinta eram reservados para os porcos, tendo Squealer argumentado que era para o bem de todos que os porcos bebiam leite e comiam maçãs.
«Começou a ser aceite que, sendo os porcos os animais mais inteligentes do que os outros animais, lhes competia resolver as questões de política da quinta, devendo, no entanto, as suas decisões ser aprovadas por maioria de votos. Isto estaria muito bem se não houvesse disputas entre Snowball e Napoleão. Quando uma discordância era possível, nunca concordavam. Se um sugeria que se semeasse maior área de cevada, o outro preferia que se semeasse maior área de aveia; se um deles entendia que certo campo era bom para couves, logo o outro sustentava que só servia para beterraba. Cada um tinha os seus adeptos e por vezes a luta tornava-se violenta. Nas reuniões Snowball ganhava pelos seus belos discursos, mas Napoleão era mais esperto em angariar votos no intervalo das sessões.» (idem, ibidem, pp. 42 – 43)
Snowball decide então a construção de um moinho de vento, no ponto mais alto da propriedade, «que poderia accionar um dínamo e fornecer energia eléctrica à quinta» (idem, ibidem, p. 43). Este fazia o desenho de fantásticas máquinas «que se encarregariam do trabalho enquanto eles espaireceriam pelos campos ou se instruiriam com leituras e conversas.» (idem, ibidem, p. 45)
Napoleão pronunciara-se contra a construção do moinho desde o princípio.
«Toda a quinta se encontrava dividida por causa do moinho.
Snowball não negava que a sua construção seria muito difícil. As pedras deviam ser cortadas e reunidas em pare­des, seria necessário fazer as velas, precisava-se depois de dínamos e cabos, e Snowball não sabia como havia de ar­ranjar tudo isso. Mas garantia que o conseguiria dentro de um ano, e depois muito trabalho se pouparia e os animais só precisariam de trabalhar três dias por semana.
Napoleão, por seu lado, dizia que era indispensável a produção e que, se fossem perder tempo no moinho de ven­to teriam a fome e portanto a morte.
Os animais dividiram-se em dois grupos. Uns gritavam:
— Votai por Snowball e três dias de trabalho por semana!
Berravam os outros:
— Votai por Napoleão e muita comida!»
Benjamim era o único que se mantinha neutral: não se inclinava para um lado nem para o outro. Não acreditava que viesse a ter mais comida, nem tão-pouco que o moinho poupasse trabalho. Com moinho ou sem moinho a vida havia de continuar como sempre – isto é, mal.»
(idem, ibidem, pp. 44-45)

Chegou, finalmente, o dia em que Snowball finalizou os seus planos.  No domingo seguinte teria de ser decidido, através de votação, se deveria ou não ser construído o moinho de vento.
Antes do momento da votação, Snowball defendeu aquela construção, enquanto Napoleão explicava que aquilo era uma asneira.
«Até aí os animais estavam divididos nas suas simpatias, mas Snowball, num rasgo de eloquência conquistou-os». (idem, ibidem, p. 46)
E quando tudo se preparava para a votação, Napoleão «deu um grito como até então ninguém lhe tinha ouvido» (idem, ibidem, p. 46) e nove enormes cães, usando coleiras de latão, invadiram o celeiro, onde se realizava a reunião, e dirigiram-se a Snowball, que apenas teve tempo de saltar do lugar para escapar aos seus dentes e fugir dali, perseguido pela matilha, até conseguir esgueirar-se por um buraco na sebe, não tornando a ser visto.
Os animais não compreendiam de onde tinham vindo os cães, mas depois o assunto foi esclarecido: eram os cachorros que Napoleão alimentara e educara secretamente. «Muito embora ainda novos, eram corpulentos e tinham olhar de lobos. Foram sentar-se ao lado de Napoleão e foi observado que davam ao rabo em sinal de satisfação, exactamente do mesmo modo que os outros cães faziam ao sr. Jones, o antigo dono da quinta(idem, ibidem, p. 47)
Um dia os animais ficaram surpreendidos quando Napoleão lhes anunciou que ia construir o moinho de vento. «Não explicou por que tinha mudado de ideias.» (idem, ibidem, p. 49)
E Squealer explicou aos outros animais que Napoleão nunca se opusera à construção do moinho de vento; afirmava que advogava desde o início a sua construção e que o plano desenhado por Snowball tinha sido roubado a Napoleão.
«Alguém quis saber então o motivo por que [Napoleão] tinha falado contra ele com tanto ímpeto.
Squealer explicou, com velhacaria:
— O camarada Napoleão procedeu com muita inteligência. Falou contra o moinho só com o intuito de se ver livre de Snowball, que era um mau carácter e um mau elemento.» (idem, ibidem, p. 50)
«Todos os animais se esforçavam como escravos, mas eram felizes. Não se queixavam do sacrifício que estavam a fazer porque sabiam que tudo era em seu benefício e dos seus semelhantes que depois viessem (...).» (idem, ibidem, p. 51)
A partir de determinada altura os porcos ocuparam a casa da quinta e instalaram-se nela. Logo os animais se lembraram do que tinha sido combinado nos primeiros dias da Revolta. Squealer procurou convencê-los da justeza de os porcos viverem na casa, já que eram o cérebro da quinta e necessitavam de um lugar sossegado para trabalhar, acrescentando que era preciso dar certa representação e dignidade à posição do «chefe».
«No entanto os animais começaram a vociferar quando souberam que os porcos tomavam as refeições na cozinha, se serviam dela para recreio e dormiam nas camas.» (idem, ibidem, p. 56)
E o moinho estava quase construído, o que era motivo de orgulho para os animais. «Só o velho Benjamim se recusava a mostrar entusiasmo e somente repetia o seu conhecido estribilho: os burros vivem muito». (idem, ibidem, p. 58)
Numa noite, sobreveio um temporal tão forte que derrubou o moinho, tendo Napoleão acusado Snowball e oferecido uma recompensa pela sua captura.
Os animais voltaram ao trabalho. Os alimentos começaram a escassear. Todos os males ocorridos na quinta eram atribuídos a Snowball.
Um dia, os animais assistiram a algo de terrível: a execução de vários camaradas.
«Se ela [Clover, a égua] pudesse expor os seus sentimentos diria que não era isso o que eles desejavam quando destronaram a raça humana. Estas cenas de terror e assassinato em nada se pareciam com o que visionavam naquela primeira noite em que Major lançara as bases para a Revolta. O seu ideal era uma sociedade de animais livres da fome e do chicote, todos iguais, cada um trabalhando segundo a sua capacidade (...). (idem, ibidem, p. 70)
E os animais continuaram a trabalhar sempre com mais dureza, para acabar o moinho numa data prefixada. «Em certas ocasiões parecia aos animais que trabalhavam mais horas e não se alimentavam melhor do que no tempo de Jones. Nos domingos de manhã, Squealer lia uma tira de papel com números que provavam que na produção de cada classe de cultura se haviam obtido aumentos de 200, 300 ou 500%, conforme o caso. Os animais não tinham motivos para duvidar, tanto mais que não sabiam as condições de produção da quinta antes da Revolta.
De qualquer forma o que eles ambicionavam era mais comida e menos números.» (idem, ibidem, pp. 73 – 74)
Os animais iam descobrindo que os Mandamentos escritos na parede do celeiro iam sendo alterados, segundo as conveniências dos porcos.
Os animais iam sofrendo privações, mas «estas eram em parte compensadas por uma maior dignidade de vida» (idem, ibidem, p. 92), sendo «mais frequentes as cantigas, os discursos, os cortejos». (idem, ibidem, p. 92)
Na Primavera, a Animal Farm proclamou a República e tornou-se necessário eleger um presidente. Havia um só candidato, pois o adversário, Snowball, fora escorraçado da quinta: Napoleão, que foi eleito por unanimidade.
Conquistado o poder, devido a calúnias, traições e ao uso da força, Napoleão modifica a Constituição anterior, de acordo com os seus ideais. A sua Constituição apenas contém cinco Mandamentos:
1 – Tudo o que anda com 4 pernas é bom, com 2 pernas é melhor.
2 – Nenhum animal deve dormir em cama com lençóis.
3 – Nenhum animal deve beber álcool em excesso.
4 – Nenhum animal matará outro animal sem causa.
5– Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros.

Os porcos ia fazendo negócios com os vizinhos. Um dia, venderam a madeira a Frederick. As notas de banco relativas ao pagamento foram inspeccionadas e verificou-se que eram falsas. E foi preferida a sentença de morte daquele. Entretanto, Frederick atacou a quinta e vários animais foram mortos e muitos outros feridos; o moinho foi destruído.
A luta foi sangrenta. Apenas o aparecimento inesperado dos nove cães da guarda pessoal de Napoleão provocou o pânico nos atacantes, que se puseram em fuga. Os animais celebraram a vitória. 
Logo que acabaram as festas da vitória, recomeçou a construção do moinho.
A quinta gerida pelos porcos «enriquecera sem que os animais se tornassem mais ricos – excepto os porcos e os cães – talvez porque houvesse tantos porcos e tantos cães (...)». (idem, ibidem, p. 102)
Apenas os porcos e os cães tinham a vida mais facilitada. Os animais mais velhos puxavam pela memória e procuravam recordar-se de como eram os dias nos primeiros tempos da Revolta, quando Jones fora expulso. Mas não havia termos comparativos. «Os únicos elementos de comparação de que dispunham eram os números que Squealer mostrava, dizendo que tudo ia de bem a melhor.» (idem, ibidem, p. 103)
Aos animais o problema parecia insolúvel. Além disso, havia pouco tempo para pensar. «Somente o velho Benjamim dizia lembrar-se do mais pequeno pormenor da sua longa vida e saber que as coisas nunca tinham sido, nem poderiam vir a ser, muito melhores ou piores – fome, trabalho e desapontamento era uma inalterável lei da vida.» (idem, ibidem, p. 103)
Até que um dia apareceu apenas um Mandamento na parede do celeiro: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”. (idem, ibidem, p. 106)

A partir dali, «ninguém se admirou de que, no dia seguinte, todos os porcos levassem chicote. Também não causou espanto que os porcos tivessem comprado uma telefonia, instalado telefone e assinado os jornais John Bull, Tit-Bits e Daily Mirror. Nem se estranhou quando Napoleão passeou no jardim, de cachimbo na boca, nem tão-pouco que os porcos tivessem tirado os fatos de Jones do guarda-roupa e os vestissem. Napoleão aparecia de casaco preto, calções de golfe, polainas de coiro e a sua favorita ostentava o vestido de seda que a sr.ª Jones usava aos domingos.» (idem, ibidem, pp. 106-107)
Os vizinhos agricultores foram convidados para uma visita à quinta. Nessa noite, ouviam-se altos risos e cantigas ressoavam na casa da quinta. O som de vozes misturadas despertou a curiosidade dos animais. Os mais altos espreitaram pelas janelas, tendo ficado surpreendidos com o que viram: homens e porcos confraternizavam, bebendo canecas de cerveja. Uns e outros discursaram e Napoleão anunciou que doravante a quinta chamar-se-ia “Manor Farm”, o seu antigo nome, e propôs um brinde à prosperidade da mesma. Todos os convivas aplaudiram entusiasticamente e esvaziaram as canecas.
Quanto mais os animais cá fora olhavam, mais estranho achavam tudo o que estava a passar-se. Parecia que se tinha alterado alguma coisa na cara dos porcos. Terminados os aplausos, o jogo de cartas que tinha sido interrompido, foi retomado.
Os animais retiraram-se silenciosamente. Contudo, poucos metros tinham andado quando o ruído de vozes os fez retroceder. Lá dentro decorria uma luta violenta, originada pelo facto de Napoleão e o sr. Pilkington terem descartado simultaneamente o ás de espadas.
E o narrador observa: «Não havia dúvidas agora sobre o que estava acontecendo às caras dos porcos. Os que se encontravam lá fora olhavam do porco para o homem, do homem para o porco e novamente do porco para o homem, mas era já impossível distinguir uns dos outros» (idem, ibidem, p.111)

© Telmo Bértolo

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