Ninguém
quer o acordo ortográfico
Notícia de última hora para todas as
crianças que estão a aprender segundo o último acordo ortográfico, para todos
os professores que estão a preparar aulas segundo o último acordo ortográfico,
para todas as editoras que estão a lançar
livros segundo o último acordo ortográfico, para todas as empresas que
passaram a fazer a sua comunicação segundo o último acordo ortográfico e, de
forma geral, para todos os portugueses que
estão a tentar esforçadamente mudar a forma como sempre escreveram para
obedecerem às regras do último acordo ortográfico: esqueçam o último acordo
ortográfico.
Esta semana, a poucos dias do fim do
prazo, o Brasil anunciou que pretende adiar a aplicação desse acordo de 2013
para 2016. Mas não anunciou apenas isso. O ministro da Educação brasileiro
afirmou que esses três anos não vão servir para preparar a aplicação do acordo –
vão servir para o contrário. Segundo ele, o acordo actual está “muito aquém do
que se poderia” fazer.
O senador Cyro Miranda, que pertence às
comissões de Educação e de Relações Exteriores, foi ainda mais claro: “Além de
o novo acordo ter sido muito mal feito, os professores ficaram de fora.
Precisamos de rever tudo. O novo acordo tem tantas excepções que os professores
não sabem o que vão ensinar.” E não foi tudo: o senador deu a entender que o
Governo brasileiro quer convencer os outros países, incluindo Portugal, a
fazerem uma mudança total do acordo. Alguns desses países serão fáceis de
convencer. Angola, por exemplo, já mostrou várias vezes que está contra o
acordo.
Os governos portugueses acharam que a
melhor estratégia para impor o acordo ortográfico aos críticos era avançar a
200 km/hora, contra todos os obstáculos, contra todas as dúvidas e contra todos
os avisos. Agora, quando se olha para trás, percebe-se que ninguém o seguiu.
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SÁBADO 13 DEZEMBRO 2012