Miguel Veiga, jurista e militante do PSD, partido que
ajudou a fundar, faz numa entrevista à REVISTA
do Expresso [Edição n.º 2108, de 23
de Março de 2013] apreciações nada lisonjeiras sobre aqueles que dirigem o partido
a que ainda pertence. Ora leia!
Porque
decidiu empurrar Rui Moreira para uma candidatura à Câmara do Porto?
Conheço-o há anos e reconheço-lhe as capacidades que
exijo para um presidente da câmara. É um homem com espessura e rigor, conhece
muito bem os meandros da política, dos negócios, e sobretudo os problemas do
Porto, sobre os quais tem ideias. Como nenhum dos outros candidatos dos
aparelhos partidários tem estas qualidades, entendi que era ocasião para haver
um grupo de cidadãos que, na sua qualidade de portuenses independentes e
autónomos, se aventurassem no risco de propor uma candidatura fora dos
aparelhos. Independentemente dos resultados, que esperamos que sejam bons,
entendo que a única maneira da sociedade civil procurar a regeneração dos
partidos é com movimentos exteriores aos próprios partidos.
Se
o candidato oficial do PSD fosse outro, seria essa a sua posição?
Podia não ser.
Qual
o motivo para rejeitar o candidato do seu partido?
Por ser um candidato do aparelho que só pode vingar, num
partido como o PSD, que é livre e aberto, porque o aparelho o impôs, tal como
impôs Passo Coelho. Quem fez o Passos Coelho primeiro-ministro?
Quem
foi?
Uns tipos do piorio, que existem em Portugal. Um é Miguel
Relvas, o outro é Marco António. Andaram durante um ano e meio a bater as distritais
para angariar votos, a realidade é esta.
Quem
está no poder, o PSD ou o aparelho?
O aparelho, quanto a isso não há dúvida. Encontram algum
social-democrata no Governo? Nem um. Estes tipos não têm convicções. Simplesmente
não têm uma ética de convicções e, portanto, não têm uma ética da
responsabilidade. Querem o poder pelo poder. Estão centralizados, incrustados e
vivem num regime de sucessão eterna, quase dinástico, que se torna opressivo e
do mais fechado que há. O regime é autofágico. Vão-se reproduzindo e é como um panzer. Levam tudo à frente. Este é um
tempo crepuscular.
Que
ligação tem hoje ao partido que ajudou a fundar?
A única ligação que tenho hoje é afetiva.
Dentro
do partido a sua opinião interessa? Ainda é ouvido?
É preciso sermos lúcidos. Valho o que valho: um voto. Mas
devo dizer que apesar de não me ouvirem, quando começarem a apanhar os primeiros
desaires eleitorais e a perder o poder, vão ter de dar atenção às vozes críticas.
Essas
vozes existiam e fizeram críticas duras ao Governo de Passos Coelho. O que lhes
aconteceu?
Vejam o que fizeram a Manuela Ferreira Leite e ao Pacheco
Pereira Todos expurgados, considerados inimigos. Fecharam as portas do partido
e ninguém lá entra Não somos pessoas para pedir licença ou favores. Não é
vaidade. É orgulho. E o orgulho é aquilo que nos mantém de pé. Estes que lá estão
não são homens de Estado. São políticos de aviário.
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EXPRESSO | REVISTA | 23.03.2013 | N.º 2108
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