terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Por que razão as escolas não aprendem?

Com este subcapítulo provocatório, Antonio Bolívar (cf. Como Melhorar as Escolas, p. 4) pretende alertar-nos para uma situação paradoxal: a escola é uma organização que ensina e onde muitos alunos realizam aprendizagens fundamentais; no entanto, “a ironia da realidade escolar está no facto de instituições dedicadas à aprendizagem não terem, elas próprias, o hábito de aprender”.

E não têm o hábito de aprender porque os indivíduos que as integram não querem ou simplesmente não vêem nisso qualquer vantagem; ou têm outros interesses prioritários; ou não sentem o apelo da consciência profissional; ou não dispõem de lideranças mobilizadoras e pró-activas; ou se acomodam à continuada certificação da menoridade intelectual; ou não sentem o estímulo e a pressão externa para; ou…

E as organizações só aprendem através de indivíduos que aprendem. Assim, para que uma escola aprenda (com os seus erros, êxitos, limites, insuficiências…) é preciso induzir a maioria dos seus membros a querer aprender. E a gerar cinco grandes processos de acção (cf. ibidem):

i) resolução sistemática dos problemas.

Diagnosticar os problemas concretos e passíveis de localmente serem resolvidos ou minorados e ter capacidade para os resolver através da reflexão crítica e novos modos de acção (mudando, muitas vezes de perspectiva e de modelo);

ii) experimentação com novos pontos de vista.

Se enfrentarmos os novos problemas com as velhas receitas (mais ordem, mais autoridade, mais ensino, mais planos de recuperação, mais apoios acrescidos, mais do mesmo…) então nada aprenderemos…

iii) aprender com a experiência passada.

Porque só analisando as causas dos êxitos e inêxitos poderemos progredir. E aqui seria inteiramente dispensável o simulacro dos relatórios que nada dizem, nada adiantam, nada melhoram. Apenas cumprem o ritual burocrático... do deixar andar e do mostrar à Inspecção.

iv) aprender com os outros.

Fechar-se nos seus próprios modos de actuar pode ser a morte da organização. Daí a importância da abertura, da confiança no outro, na aprendizagem interactiva...

v) transferir conhecimentos.

Pois o conhecimento tem mais impacto quando é rápida e eficientemente divulgado entre todos os membros da organização e quando é partilhado por todos.

Para que as escolas aprendam é, pois, preciso gerar ambientes propícios para a aprendizagem, criar estímulos, explicitar vantagens materiais e simbólicas.

E, sobretudo, confiar, apostar, apoiar, reconhecer, contratualizar num quadro claro de direitos e deveres de todas as partes. Só assim poderemos sair do inferno onde nos queimamos e perdemos.

Fonte: José Matias Alves (Blogue Terrear)

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