quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

OPINIÃO > Ramiro Marques: «O eduquês como área de negócio»

“O professor não deve ensinar. Deve ser o aluno a conduzir o processo de aprendizagem. O ensino centrado no professor deve ser substituído pelo aprendizagem centrada no aluno. Num Mundo repleto de tecnologias da informação, o ensino directo dos conteúdos deve dar origem ao processo de descoberta autónoma. A memorização é irrelevante quando se tem o Conhecimento na ponta dos dedos.

Estas foram apenas algumas das frases que tive de ouvir, ao longo do dia, nos vários júris de mestrado em Educação a que presidi.

Nos últimos meses, tenho presidido ou arguido dezenas de teses de mestrado em Educação. Frases como aquelas são o pão nosso de cada dia. Não há tese de mestrado em Educação que se preze que não tenha frases daquele tipo. E os mestrandos aderem a essas teses como se não precisassem de prova. Nem sequer apresentam argumentação. Como se fossem frases de origem divina, os mestrandos papagueiam-nas de forma acrítica, copiando-as de livros e artigos de Educação e Pedagogia onde, por sua vez, foram colocadas sem que houvesse um trabalho de crítica ou uma argumentação coerente.

Ainda que queiram fugir do eduquês, não têm como. As bibliotecas estão cheias de teses de doutoramento e de mestrado escritas em eduquês e que divulgam as teses que lhe são caras. Por mais que pesquisem por autores e estudos alternativos ou por teses com metodologias robustas, é tão difícil encontrar bibliografia credível como encontrar uma agulha no palheiro.

Na área de negócio das pós-graduações em Educação virou moda citar por citar, fazer citações de citações, papagueando as teses não provadas de nomes ilustres do eduquês. É um mundo que faz lembrar a escolástica medieval. Há os mestres incontestados e há os cépticos que, logo identificados, são metidos no Índex. Na Idade Média, as teses dos escolásticos eram justificadas e fundamentados pela leitura das Escrituras Sagradas. Agora, a legitimação surge envolvida numa ideologia falsamente progressista com o uso de conceitos que nunca são examinados: diferenciação pedagógica, individualização do ensino, ensino centrado no aprendente, aprendizagem significativa e conhecimento em acção ou em uso.

Fonte: ProfBlog


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