segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Horas atribuídas às disciplinas de Português e de Matemática são insuficientes para abordar todo o programa

3.º ciclo

Português e Matemática: horas “não chegam” para dar a matéria

por PEDRO SOUSA TAVARES

Associações temem que situação piore com o fim do Estudo Acompanhado

As três horas semanais de Português e Matemática no 3.º ciclo são insuficientes para as necessidades dos alunos e definitivamente “não chegam” para acomodar as exigências dos novos programas das disciplinas.

Esta é a opinião unânime dos presidentes das associações de professores de Português (APM) e Matemática (APM), que receiam também o impacto do fim anunciado, em 2011, da área da Estudo Acompanhado, que desde há alguns anos — com autorização da anterior ministra, Maria de Lurdes Rodrigues — estava a ser usada pelas escolas para reforçar os tempos de aprendizagem destas disciplinas.

“O Estudo Acompanhado era a unidade de cuidados intensivos do Português e da Matemática”, defende ao DN Arsélio Martins, da APM, para quem esta solução era ainda assim “um paliativo” que só disfarçava as carências.

Com os novos currículos de Matemática do básico a entrarem na última etapa do período experimental — estão a ser testados este ano com 10 turmas do 9.º ano — este professor defende soluções que promovam “mais contacto” com a disciplina. “O programa em experimentação não foi feito para as três horas semanais”, considera, admitindo que o reforço “não tem de passar por mais horas de aula”, podendo ser dedicado a actividades relacionadas com a disciplina.

Paulo Feytor Pinto, da APP, lembra que “Portugal é dos países da União Europeia e da OCDE que menos horas dedicam ao estudo da língua materna” e um dos casos raros em que houve uma redução horária no 3.º ciclo. “Antes de 2001, os alunos tinham quatro aulas de 50 minutos por semana. Agora são dois blocos de 90, lembra.

Números que considera contraditórios com os objectivos do novo programa de Português, que até foi “aplaudido” pela Associação: “Com a carga horária que temos, não é para dar”, ironiza.

Para Feytor Pinto, o tempo de trabalho é importante, mas a dimensão das turmas ainda é mais decisiva, porque condiciona o aproveitamento das aulas: “Com turmas de 30 alunos — eu tenho duas — as perturbações são muito maiores”.

Em declarações ao DN, o antigo ministro da Educação David Justino, que recentemente lançou um livro sobre o ensino em Portugal (ver caixa), defende que “o reforço da qualidade das aprendizagens passa muito pela aposta no Português e Matemática”, que considera “nucleares” na formação dos alunos.

O professor universitário defende que o Ministério da Educação “deveria aplicar nestas disciplinas as horas libertadas [em 2011] com o fim da Área Projecto e do Estudo Acompanhado”.

Contactado pelo DN, o Ministério da Educação diz que “respeita as posições manifestadas, mas não as comenta”.

Diário de Notícias [30.11.2010]

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